18 – O arenito ferruginizado da Fortaleza São José de Macapá

Ano 02 (2015) - Número único Artigos

Roseane da Conceição Costa Norat, doutoranda do PPGG/IG/UFPA & Marcondes Lima da Costa, curador do Museu de Geociências do IG/UFPA

 

A Fortaleza de São José de Macapá /FSJM no Amapá é uma edificação monumental situada às margens do Rio Amazonas, cujas obras transcorreram ao longo de 18 anos, entre os anos de 1764 e 1782. Dentre os materiais empregados na sua construção, destacam-se os arenitos ferruginizados que predominam sobre outros materiais rochosos como as crostas lateríticas ou as tijoleiras cerâmicas. Sua importância geológica, econômica, ambiental e cultural reflete sua ocorrência e utilização, especialmente como material construtivo, em toda região amazônica, sendo recorrentes nas edificações históricas.

São rochas geralmente escuras, de coloração marrom a avermelhada, com mineralogia típica em que grãos de quartzo, em predomínio à matriz ferruginosa, são cimentados por goethita e hematita, principalmente. Suas características texturais e mineralógicas permitiram seu emprego em diversas formas e funções na FSJM. De maneira menos trabalhada aparecem na conformação das paredes das cortinas e muralhas e na pavimentação da praça central. Porém denotam uso nobre em cortes definidos e talhados com precisão para amarração dos bastiões em blocos angulosos definindo os cunhais, bem como nas áreas em que se exigiam cortes curvos a exemplo da maior parte da linha de cordões das muralhas e nas bases das guaritas. De uso mais geral, os arenitos ferruginizados também foram aplicados nas alvenarias mistas das edificações internas, escadarias e soleiras.

Como materiais constituídos nas mesmas condições climáticas em que a obra se insere, as alterações decorrentes do intemperismo nessas rochas, se confrontados aos demais materiais construtivos, não são das mais impactantes. Contudo, o próprio contexto arquitetônico que requer a construção em vários blocos interligados por camadas de argamassas, diferentemente dos afloramentos naturais, permite maior suscetibilidade destas rochas exigindo cuidados na sua manutenção preventiva. O conhecimento científico quanto à aplicação e características petrográficas desses materiais são bases para subsidiar os planos de conservação e preservação do patrimônio cultural.

 

Figura 1. Aspecto da muralha da FSJM onde se observam diversos tratamentos de arenitos ferruginizados: em blocos em cantaria formando os cunhais, em cortes curvos compondo o cordão de contorno das muralhas e nas bases das guaritas, neste caso encobertas por pintura.