02 – Um Domingo na Praça

Ano 04 (2017) - Número 04 Causos

Fernanda de Carvalho Sobrinho

Geóloga e Ex-aluna de mestrado do PPGG-UFPA.

 

Durante a Exposição de Minérios realizada anualmente pelo Grupo de Mineralogia e Geoquímica Aplicada, na Praça Batista Campos em Belém do Pará, cada expositor deve ter presenciado situações únicas, algumas engraçadas e outras não, mas que com toda a certeza tornaram esse evento mais interessante. Como expositora, posso dizer que dois momentos muito engraçados marcaram essa que foi minha segunda participação no evento.

O primeiro deles foi protagonizado por uma pequena menininha. Ela vinha toda feliz acompanhada por sua mãe e outra mulher, uma tia talvez. As duas mulheres ao passarem em frente a nossa exposição tiveram a curiosidade de parar e saber do que se tratava. Só que não tiveram tempo para isso, pois a pequena garota olhando para nós todos uniformizados de camisas brancas, logo apressou seus passinhos para o outro lado da praça e saiu berrando:

– Não mãe, eles vão me furar!

Nem tivemos tempo de explicar para a pequena que na verdade não éramos agentes de saúde em uma campanha de vacinação, mas pelo menos arrancamos boas gargalhadas das mulheres que saíram às pressas atrás da criança.

A segunda situação inusitada aconteceu quando a praça já estava bastante movimentada. Havia muitas crianças correndo e brincando e diferentes tipos de vendedores: de pipoca, brinquedos e balões. Um desses vendedores de balões pareceu estar bastante interessado nas riquezas minerais de nossa região. Quando descobriu que aquela “pedra” tão escura e “pesada” que estava à sua frente era na verdade minério de ferro, ficou impressionado. Ele então começou a queixar-se de como “as empresas retiravam o minério de nosso estado e nos deixavam na miséria”:

– Essa Vale tira muito minério daqui e não investe nada, já viu como Parauapebas é?

Comecei então a explicar que na verdade as empresas de mineração pagam muitos impostos, e que o dever de reverter esse dinheiro na melhoria de vida da população é obrigação do governo, e que na verdade o município de Parauapebas tem uma arrecadação muito alta em virtude da mineração. Ele pareceu concordar com isso e então o rumo da conversa mudou para o atual escândalo de corrupção política no país. Fiquei entusiasmada ao ver uma pessoa tão humilde se interessar por assuntos tão importantes que a maioria prefere nem discutir, mas comecei a desconfiar de seu real interesse ao perceber que ele até parou de vender seus balões só para continuar conversando. Quando outras pessoas chegavam e também perguntavam sobre o minério de ferro, ele aguardava até que elas saíssem e voltava a puxar conversa. Então ele disparou:

– Você não tem o sotaque daqui, né?

– Não, sou do sudeste do Pará – respondi.

– Hum, legal. Mas e aí morena você conhece Parauapebas, você é de lá é?

Aquele “morena” soou como um alerta de que aquela conversa iria bem mais além de minérios e política se eu deixasse, foi então que para encurtar a prosa respondi com serenidade:

– Olha, não sou de lá, mas conheço bem a cidade, pois meu marido trabalha lá.

Fui falando e saindo em direção ao Tauã, colega que também era expositor no evento, como se ele estivesse me chamando. O vendedor de balões então me olhou, agradeceu as explicações e foi embora.