03 – O sol escaldante e a Thaisete

Ano 04 (2017) - Número 04 Causos

Leonardo Boiadeiro Negrão

Geólogo, Msc pelo PPGG-UFPA.

 

Oito e meia, chegamos a praça Batista Campos. Era uma bela manhã de domingo, 19 de maio de 2015. O sol raiava esplêndido, convidando vagarosamente os visitantes a se protegerem dele, e, nós logo começamos a nos organizar para a nossa exposição, representando o Museu de Geociências na UFPA durante o início da 13ª Semana Nacional dos Museus.

Bingo! Exclamei com alegria e chamei meu parceiro Igor, apontando o local ideal onde colocaríamos nosso banner “A tabela periódica no aparelho celular”. Era uma sombra rara ao redor do coreto principal onde ocorreriam as principais atividades de interação, principalmente para atrair as crianças, com atividades diversas como, por exemplo, brincar com argila, criando varias formas, sob a orientação da colega Thaís.

Assim como os visitantes, o sol passeava entre as copas das árvores, e seguia visitando os banners de cada um, deixando sombra por onde tinha passado, e raiando cada vez mais forte por onde fora a pouco considerado um lugar “ideal”. Às nove horas e trinta minutos lá estava ele, radiante sobre nossas cabeças, imprimindo uma sensação térmica de uns quarenta e tantos graus célsius sob nós.

É bem verdade que a maioria dos visitantes parecia assustada ao verem a tabela periódica no nosso banner. Alguns se interessavam, mas a maioria desistia rápido sob o sol escaldante. Eu mesmo, confesso, só dava as caras ao banner quando via alguém interessado, quando não ficava ao lado, na sombra. Assim meu colega Igor também fazia, até que, repentinamente, ele começou a insistir em ficar no sol, mesmo quando não precisava apresentar o banner. Não arredava o pé do lugar, virado para o coreto, mal piscava e chegava a deixar escapar sorrisos bobos.

Não me contive, me dirigi ao colega para perguntar o que se passava. Ao me posicionar ao lado dele, nem se quer precisei perguntar, apenas segui seu olhar que interceptava algo de altíssima simetria, posicionado quase ao centro do coreto. Algo que se movia, transladava e ao que nos parecia, se apresentava formoso a partir de todas as faces.

Vestida de saia e ajudando as crianças, ficamos instigados e nos perguntamos o nome, sem saber, resolvemos denominar tamanha formosura. Logo percebemos que era do mesmo grupo da nossa colega Thaís, e nada mais justo que chamá-la “Thaisete”. A partir daí, misteriosamente o sol deixou de nos incomodar, permanecemos firmes e fortes ao lado do banner, avistando a bela forma, mas claro, tudo em nome da ciência.

De fato, não troquei nenhuma palavra com Thaisete, mas na noite do mesmo dia ela me veio a memória quando meu pescoço ardeu, queimado devido ao sol forte. Minha consciência se perguntou se valeu a pena, prontamente me respondi que sim, sem dúvidas. Valeu muito a pena, a exposição do MUGEO na 23ª Semana Nacional dos Museus!