06 – Mulheres pescando no Rio Guaporé em Forte Príncipe da Beira, Rondônia, Brasil.

Ano 03 (2016) - Número 01 Artigos

Roseane da Conceição Costa Norat, doutoranda do PPGG/IG/UFPA, Faculdade de Arquitetura/UFPA, Marcondes Lima da Costa, Curador do Museu de Geociências/IG/UFPA.

 

Na fronteira do Brasil com a Bolívia foram construídos os monumentos militares Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição posteriormente denominada de Bragança e o Real Forte Príncipe da Beira. Ambos dispostos na margem direita do Rio Guaporé, cujo envoltório natural e geológico, ao lado da magnitude do rio, complementam a paisagem cultural.

Em viagem de estudos para conhecer as estruturas históricas remanescentes não se poderia deixar de observar outros aspectos que integram o cenário encontrado: história, arquitetura, natureza, geologia, memórias e práticas sociais. A vida pacata de seus cidadãos, o vai e vem de pessoas atravessando a fronteira tênue aquosa do rio que flui no meio da floresta, as fotos esmaecidas pelo tempo que guardam instantes ou momentos desaparecido mas não esquecidos, os pés descansando na correnteza do rio, o burburinho de vozes, risos, conversas soltas e dispersas das mulheres, suas crianças e companheiros, a pescar ao entardecer na beira do Guaporé (Figura 1A), são reflexões poéticas e de felicidades, inesquecíveis.

Ao observador atento o leito do rio seria também um convite à imersão e interpretação geológica. Lajedos de granitos e rochas vulcânicas, sejam nos barrancos ou como ilhas, enfeitam a paisagem, e já eram representados na cartografia histórica desde o séc. XVIII. São locais de encontro, espaços de convivência sejam na margem ou numa cabana no meio do rio. Essas rochas foram também usadas na construção das Fortalezas. As vulcânicas representadas por possíveis dacitos pórfiros, deram origem localmente a inúmeros polidores pré-históricos, em que o polimento ressalta magnificamente os fenocristais de feldspatos. Próximo ao porto junto ao Forte Príncipe da Beira, além das atividades de embarque e desembarque, se destaca a pesca e lazer da população (Figura 1B). Surpreende o domínio das mulheres como pescadores. Elas projetam seus caniços a partir da bela laje contínua de dacitos pórfiros (Figura 1C). Tagarelam em alto e bom tom, o que parece se contrapor com a atividade de pescador. Vai ver que o seu tagarelar se confunde com o grunhido das ariranhas a disputar um peixinho na forte correnteza do rio Guaporé. Era final de tarde, um entardecer inebriante, com o sol pintando o horizonte de tons do amarelo-ouro, por vezes multicolorido e prateando as águas do rio Guaporé, em grande deleite. Olhar para o chão onde se pisa pode ser apenas o primeiro convite a um mergulho na história geológica de milhões de anos que se descortinam de forma tão clara e precisa. Basta olhar ao redor e para baixo, sentar e observar.

 

Figura 1. (A) Mulheres pescando na margem do Rio Guaporé sobre o leito de rochas vulcânicas em frente ao porto do Real Forte Príncipe da Beira. (B) Grupo de mulheres, criança e homem pescando ao entardecer no Rio Guaporé, acomodados sobre os afloramentos rochosos emersos nesse período de visita. (C) Afloramento de dacito pórfiro com fenocristais bem desenvolvidos (Fotos: MLC, 2015).