Ano 03 (2016) - Número 03 Artigos
Marcondes Lima da Costa.
Uma bela amostra de xisto cinza escuro a cinza prateado encontrava-se entristecida entre um lote de amostras de rochas amontoadas num canto da bancada do espaço conhecido como Sala 9 do prédio FAGEO (Figura 1). Nessa sala acontecem as aulas de mineralogia macroscópica, entre muitas outras. A amostra por sua beleza me saltou a vista e me surpreendi por ela ainda está por lá, em outras plagas teria sido surrupiada facilmente. Tomei-a comigo e disse-me, esta será minha ou do Museu, mas antes vou tentar identificar quem coletou e o porquê. Dito e feito. Logo descobri que a amostra fora coletada em 2011 pela Profa. Dra. Rosemery da Silva Nascimento quando realizava trabalhos de campo geológico no interior do Ceará, como parte da disciplina Evolução Crustal, em companhia dos professores Dr. Paulo Gorayeb e Francisco Matos com a colaboração do prof. Cristiano Magini (UFC), conforme me esclareceu a profa. Rosemery. Segundo ela, com base nas explanações do prof. Cristiano, a rocha corresponde a xistos negros aluminosos do Grupo Orós dentro do Sistema Jaguaripe- Orós, mais especificamente, andalusita-estaurolita-granada xistos. Em breve será apresentada uma descrição petrográfica detalhada deste belo exemplar acompanhada, é claro, de bela discussão petrológica, pelas professoras Rosemery da Silva Nascimento e Vânia Maria Fernandes Barriga. As lâminas já estão prontas. É só conferir no próximo número do Bomgeam. A amostra já está no acervo do Museu de Geociências sob o tombamento de número 2459.
O grande destaque desta amostra está por conta dos porfiroblastos de estaurolita (Figura 1) de cor marrom escura, em cristais centimétricos, geminados em cruz, circundados por muscovita/biotita fina, cinza prateada, quiçá clorita. Cristais sub- centimétricos, delgados e isolados desse mesmo mineral se distribuem orientados e dispersos na matriz micácea, ou seriam em parte andalusita, que estaria também presente segundo o prof. Cristiano. Outro aspecto ainda muito interessante é que os megaporfiroblastos de estaurolitas incluem lindos cristais dodecaédricos de almandina, de cor vermelha, transparente, com 2 a 4 mm de diâmetro. Tem potencial gemológico, lhes falta por enquanto tamanho. A identificação da estaurolita foi confirmada por DRX (Figura 2). A rocha no seu geral seria, com as limitações que impõe a descrição mesoscópica, um estaurolita-granada-muscovita (?)-biotita(?) xisto. Faltaram-nos neste momento informações sobre a andalusita.