Ano 04 (2017) - Número 04 Artigos
10.31419/ISSN.2594-942X.
Kamila Gomes Fernandes, Faculdade de Geociências (UFMT), Amarildo Salina Ruiz Faculdade de Geociências (UFMT), Jayme Alfredo Dexheimer Leite, Faculdade de Geociências (UFMT).
Os depósitos do tipo ouro orogênico da Província Aurífera Alto Guaporé situam-se na porção SW do Cráton Amazônico, SW Mato Grosso. No garimpo da CROOPOPOL, que se localiza na região de Conquista d’Oeste em Mato Grosso, o ouro ocorre associado a sistemas de veios de quartzo hospedados em filitos sericíticos (metapelitos) (Figura 1A) e metaconglomerados (Figura 2B) da Formação Fortuna bem como disseminado nas encaixantes.
Os filitos sericíticos são formados por sericita, clorita, quartzo, epidoto e minerais opacos bem como apatita e zircão como minerais acessórios. Exibem texturas blastopsamítica e lepidoblástica marcada pela orientação dos minerais placóides sericita e clorita. Apresentam marcada foliação Sn clivagem ardosiana (Figura 1B) e sutil Sn+1 clivagem de crenulação. Lentes de metarenito ocorrem intercaladas, por vezes, ao material pelítico, porém essas ocorrem dobradas devido a deformação superimposta.
O metaortoconglomerado de cor amarela acinzentada é opticamente composto por quartzo, sericita, fragmentos de rocha, óxidos de ferro, plagioclásio, clinozoisita, feldspato alcalino e minerais opacos. A matriz representa 20% da lâmina de rocha enquanto os porfiroclastos de quartzo perfazem 80%. A matriz é composta predominantemente por quartzo recristalizado, sericita, plagioclásio e clinozoizita e apresenta apatita e zircão como minerais acessórios. Os porfiroclastos são representados por quartzo incolor, quartzo leitoso, arenito fino e feldspato alcalino (Figura 2A).
Com base na composição mineralógica e relação com as foliações presentes na rocha encaixante, filitos sericíticos, quatro famílias de veios são identificadas na frente de lavra cujas principais características são sumarizadas na Tabela 1.
Tabela 1. Principais eventos tectônicos e feições estruturais dos veios de quartzo no Garimpo COOPROPOL.
Tipo | Mineralogia | Encaixante | Espessura | Geometria | Orientação | Distribuição | |
---|---|---|---|---|---|---|---|
Não-mineralizados | V1 | quartzo leitoso e incolor | Filitos sericíticos | 1-3 cm | Lenticular | N38°E/46°SE N52°E/44°NW |
Paralelo a S1 (clivagem ardosiana
/ xistosidade) |
Mineralizados | V2 | quartzo incolor, pirita,
arsenopirita, hematita, turmalina |
15 – 80 cm | Tabular/en
echelon |
N47°E/42°SE | Subperpendicular a S1 (clivagem ardosiana/ xistosidade) | |
V4 | quartzo incolor, leitoso, fumê e citrino; pirita, hematita, turmalina | 4 – 30 cm | Tabular | N26°W/64°NE
|
Paralelo a S3 (clivagem de crenulação) | ||
Não-mineralizados | V3 | quartzo leitoso | 4 – 10 cm | Tabular | N37°E/22°NW | Paralelo a S2 (clivagem de crenulação) |
Três fases de deformação foram identificadas na localidade de estudo, D1, D2 e D3 (Figura 3). A fase D1, de natureza dúctil é responsável pelo desenvolvimento de intensa foliação penetrativa S1. A fase D2, de caráter dúctil-rúptil, caracteriza-se pelo desenvolvimento de foliação S2 clivagem de crenulação e dobras F2 na fase dúctil; por outro lado, a natureza rúptil da fase D2 é demonstrada por veios sigmoidais en echelon bem como estrias de falha ao longo do contato entre filitos e metacongomerados, o qual é marcado por falha reversa de baixo ângulo. A fase D3, de caráter dúctil, é representada por clivagem de crenulação S3 bem como dobras F3.
Foram identificadas dois tipos de inclusões fluidas nos quartzos dos veios: (I) bifásicas aquosas e (II) monofásicas aquosas, as quais se apresentam em três diferentes assembleias, sendo elas: primárias, secundárias e pseudosecundárias. O tipo I caracteriza-se por inclusões que ocorrem em nuvens, isoladas ou em trilhas como inclusões primárias, secundárias e pseudosecundárias, com diâmetro bem variável entre 2 e 30 μm e grau de preenchimento da fase vapor entre 5 e 50%. O tipo II caracteriza-se por inclusões que ocorrem predominantemente em nuvens como inclusões primárias e pseudosecundárias, com diâmetro de até 5 μm.
Para a etapa de microtermometria, selecionou-se o quartzo do veio mais rico em ouro, V2, a partir do qual 72 inclusões primárias bifásicas foram submetidas a fases de resfriamento e aquecimento. As análises forneceram valores intermediários de temperatura de homogeneização e os baixos valores de salinidade permitem atribuir o depósito estudado ao tipo lode-gold (Arehart 1996) ou, como mais comumente denominado atualmente, ouro orogênico (Groves et al. 1998; Figura 4).
REFERÊNCIAS
Arehart G.B. 1996. Characteristics and origin of sediment-hosted disseminated gold deposits: a review. Ore Geology Reviews, 11:383-403.
Groves, D. I., Goldfarb, R. J., Gebre-Mariam, M., Hagemann, S. G., Robert, F. 1998. Orogenic gold deposits: a proposed classification in the context of their crustal distribution and relationship to other gold deposit types. Ore geology reviews, 13(1):7-27.
Wilkinson J. J. 2001. Fluid inclusions in hydrothermal ore deposits. Lithos, 55(1), 229-272