04 – Acumulação e o ciclo biológico dos elementos químicos nos manguezais de Marapanim, no nordeste do Pará.
Ano 04 (2017) - Número 02 Artigos
10.31419/ISSN.2594-942X.v42017i2a4MPSP
Maria do Perpétuo Socorro Progene Vilhena, Universidade Federal Rural da Amazônia, Campus de Tomé-Açu; Marcondes Lima da Costa, Universidade Federal do Pará; José Francisco Berrêdo, Museu Paraense Emílio Goeldi.
Os sedimentos dos manguezais de Marapanim (nordeste do Pará) adsorvem metais, os quais podem ser transferidos para as plantas. Os caranguejos, que consomem as plantas, podem assimilar e acumular os metais em níveis deletérios para a saúde humana se houver fonte de contaminação (Silva et. al., 2006; Vilhena et al., 2012).
Os sedimentos dos manguezais de Marapanim são compostos por SiO2, Al2O3 e Fe2O3, Na2O, K2O, MgO, CaO e TiO2, além de Zn, As, Cr, V, Sc, Mo, com baixos teores de Hg (média 0,030 µg g-1). A composição química reflete a composição mineralógica, representada principalmente por argilominerais, como caulinita, esmectita e illita, além de pirita (Figura 1), e claro a matéria orgânica. A composição química das folhas de Rhizophora mangle, alimentos dos caranguejos, apresentam-se enriquecidas em Mg, Ca, P, Zn, Co, Cu, Ni, V, Ba, Hg, Zr e Sr. Os elementos mais abundantes nos tecidos dos caranguejos são Fe, Al, Mg, Ca, Na e K (Figura 2), o Hg é o que menos se acumula. Para se avaliar a possível transferência dos metais aos humanos ao se alimentarem de caranguejos, empregou-se a análise químicas de seus cabelos do couro cabeludo, de doadores voluntários. As concentrações dos doadores de Marapanim apresentaram concentrações de S, Ca, P, Na, Mg e Zn acima de 10 μg g-1. O Hg concentra-se principalmente nos cabelos dos adultos masculinos e aumenta de acordo com a faixa etária, no sentido de criança (1,0 µg g-1), jovem (1,3 µg g-1) e adulto (3,0 µg g-1), mas mesmo assim estão abaixo dos limites recomendados pela WHO (1990) de 6 µg g-1 para pessoas expostas e, 2,0 µg g-1 para não expostas a ambientes não impactado por mercúrio.
As transferências dos elementos dos sedimentos para as plantas (Rhizophora mangle) são muito baixas, exceto Hg, Mg e Ca. O mercúrio foi o que mais acumulou no tecido foliar com possibilidade de ter sido assimilado de fontes aéreas. Enquanto que a transferencia planta-caranguejo mostra valores altos para Fe, Al, Si, K, Ti, Zn e Se. Essas transferências podem representar as necessidades metabólicas do animal. Analisando os níveis de transferências dos elementos dos caranguejos para os doadores de Marapanim, observa-se que não apresentam qualquer evidência de contaminação por metais.
Figura 1. Imagens de MEV (A) cristais octaédricos de pirita; (B) fromboides de pirita; (C e D) argilomineral identificado como esmectita, formato de “couve-flor” nos sedimentos de Marapanim.
Os dados obtidos nos sedimentos, nas folhas e nos caranguejos dos manguezais de Marapanim, bem como em cabelos humanos dessa região retratam a natureza química natural destes sedimentos, não havendo qualquer indicação de poluição.
Figura 2. Ilustração mostrando a ordem de transferência dos elementos dos sedimentos para as folhas e destas para os caranguejos bem como os elementos mais concentrados em cabelo humano, no domínio dos manguezais de Marapanim.
REFERÊNCIAS
Silva C.A.R., Silva A.P., Oliveira S.R., 2006. Concentration, stock and transport rate of heavy metals in a tropical red mangrove, Natal, Brazil, Marine Chem., 99: 2-11.
Vannucci, M., 2003. Os manguezais e Nós. 2. ed. Rev. e ampl. 296p.
Vilhena, M.P.S.P., Costa, M.L., Berredo, J.F., 2012. Accumulation and transfer of Hg, As, Se, and other metals in the sediment-vegetation-crab-human food chain in the coastal zone of the northern Brazilian state of Pará (Amazônia). Environ Geochem Health 35 (1), 1-20.
World Health Organization, 1990. Geneva, Methymercury Environmental Health, Criteria 101p.