Ano 11 (2024) – Número 4 – Fulgurites and Sea Glass Causos

10.31419/ISSN.2594-942X.v112024i4a8MESX
Milson Edmar da Silva Xavier
Geólogo autônomo, Museu Casa do Milson, Aracati, Ceará
milsonest@gmail.com
Uma das formas de observação dos astros celestes tem como objetivo a orientação no espaço, com base nos pontos cardeais. Nos trabalhos de campo em Geologia, Geografia, Cartografia e ciências afins, essa observação ajuda a determinar as direções e sentidos dos segmentos N-S (Norte/Sul) e L-W(Leste/Oeste), através da visualização do poente ou nascente do Sol. Esse ensinamento, inclusive com ilustração, é amplamente divulgado nos livros didáticos desde o Ensino Fundamental, passando pelo Ensino Médio e se estendendo pelo Superior nos cursos citados acima.
A rosa dos ventos é a representação dos pontos cardeais: Norte, também chamado de “Setentrional” ou “Boreal”; Sul, também chamado “Meridional” ou “Austral”; Leste, também chamado “Oriente” e Oeste, também conhecido como “Ocidente”. Assim, tendo o Sol como referência, chega-se à relação da nascente do Sol com o Leste e o poente com o Oeste, através do qual se determinam os outros pontos cardeais (figura 1).
Nos trabalhos em campo é possível obter as informações através de equipamentos sofisticados ou mesmo simples. Entretanto, não se tendo o instrumento necessário para, por exemplo, saber o sentido do mergulho de uma camada ou a direção de uma superfície de falha, adota-se essa técnica de investigação a partir da nascente ou poente. Obviamente, em trabalhos de campo há um planejamento em que tais instrumentos não podem faltar. Entretanto, quando saímos em passeio, sem destino certo, é provável que a geologia floresça à nossa frente. Foi o que ocorreu em Itaiçaba, no estado do Ceará.
Em uma de suas visitas em Aracati-CE, o Prof. Marcondes aceitou o meu convite para um almoço em um restaurante à beira do rio Jaguaribe, onde se come um dos pratos típicos da região: tilápia com baião. Falar em restaurante na localidade do Cabreiro, distrito de Aracati e local da degustação, é ser muito generoso, pois era uma verdadeira palhoça, mas muito agradável e comida com um bom paladar.
Depois do deleite, seguimos em viagem à barragem de Itaiçaba, no município de mesmo nome, estado do Ceará. Aqui, o Jaguaribe é represado e isso permite uma excelente exposição de rochas do embasamento (figura 2), que no dizer do professor Marcondes, seria uma excelente oportunidade para aprendizado de alunos de qualquer nível do curso de graduação em Geologia. Começamos a fotografar as estruturas presentes e coletar algumas amostras. Em certo momento, precisávamos verificar o sentido de um plano de falha e passamos a levantar e abrir os braços procurando os pontos cardeais para essa determinação. Neste momento, alguns transeuntes que passavam pela barragem acenaram em nossa direção em resposta aos nossos braços levantados. Foi uma saudação tão efusiva que tivemos de responder na mesma intensidade e com alegria (figura 3)
Perder as informações momentâneas de localização é mais benéfico que passar por forasteiro mal-educado. E assim, o fizemos.
Figura 2 – Exposição de rochas do embasamento favorecida pela barragem (logo abaixo da barragem) do rio Jaguaribe no município de Itaiçaba.