Ano 12 (2025) – Número 4 Artigos

UM POUCO DE HISTÓRIA
Halita, na sua forma popular, sal de cozinha, sal-gema, ou simplesmente sal, pode ser considerado o mineral mais conhecido do ser humano, e que se estende aos primórdios da humanidade. No entanto sob o nome halita foi publicado pela primeira vez somente em 1847 por Glocker (1847) em seu livro escrito em latim. O termo halita neste livro é etimologicamente derivado da expressão sals, proveniente de língua protoindo-europeu, que significa sal, e que no grego antigo passou a hals. Ao termo hals foi inserido sufixo ite, que no idioma inglês ficou, halite. Portanto, foi Glocker quem cunhou o nome halita.
A halita foi também um dos primeiros minerais a ter a sua estrutura cristalina identificada por difração de raios X. Isso ocorreu no período frenético da evolução da física. Em 1895 o físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen (1845 -1923), descobria os raios X, e por esta descoberta e os trabalhos envolvidos ele foi condecorado com o primeiro prêmio Nobel de física em 1901. E em 1912 Max Theodor Felix von Laue (1879 – 1960) e colegas descobriram que os minerais difratavam os raios x, e a partir desta propriedade, conseguiram descrever a primeira estrutura cristalina mineral, a esfalerita, ZnS, o que representava uma grande revolução nos estudos dos minerais, das substâncias cristalinas. Laue foi outro físico alemão, que recebeu também o prêmio Nobel de física de 1914, pela descoberta da difração de raios pelos minerais, pelas substâncias cristalinas. Contemporaneamente ainda em 1912 Sir William Henry Bragg (1862 – 1942) e seu filho Sir William Lawrence Bragg (1890 a 1971), físicos ingleses, da Cambridge Philosophical Society, deduzem a equação matemática da difração de raios X, que ficou conhecida como lei de Bragg, nλ = 2d sin θ. Pai e filho foram em 1915 laureados com o prémio Nobel de física pelo seu trabalho pioneiro de determinação da estrutura cristalina dos minerais halita, esfalerita e diamante. Portanto, a halita, foi também um dos primeiros minerais a ser analisado por difração de raios X.
A importância do sal, em que mais tarde seria identificado que o principal mineral presente era a halita, é citado em vários livros do velho testamento, e enaltecido e valorizado por suas propriedades físicas e químicas. Foi utilizado até como forma de pagamento, moeda, e troca de produtos. Obviamente deve se ter em mente, que ao se referir a sal, outros minerais além de halita, então envolvidos, porém o sabor “salgado”, é dado mais fortemente pela halita, e este era o principal critério para denominar sal. Mas em geral os depósitos de sais, além do mineral halita, incluem outros sais como silvita, KCl, anidrita, CaSO4, carnalita, KMgCl3·6(H2O), gipso, CaSO4.2H2O, polyhalita, K2Ca2Mg[SO4]4·2H2O, kieserita, (MgSO4·H2O), kainita, KMg(SO4)Cl · 3H2O, que constituem os grandes depósitos naturais de sais, conhecidos como evaporitos. A halita é assim um mineral tipicamente evaporítico, ou seja, se precipita a partir de soluções salinas concentradas, como por exemplo a água dos mares e oceanos, por evaporação solar, entre outros processos. No livro Gênesis (19:26) do Velho Testamento, há uma referência interessante sobre o sal, usado como material de fossilização: “… a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida em uma estátua de sal “. Já o livro Deuteronômio (29:23) mostra o quanto o sal era nocivo para a terra “… e que toda a sua terra é enxofre e sal e abrasamento, de sorte que não será semeada, e nada produzirá, nem nela crescerá erva alguma…”, ressalta como sal é prejudicial ao desenvolvimento da agricultura. Situações reais ao longo da história são encontradas desde os tempos antigos até o presente. Pode-se citar o apogeu cultural da Mesopotâmia, entre os vales dos rios Tigres e Eufrates, que se salinizaram com a intensificação da agricultura; também no vale do Nilo, ou o caso recente do mar Cáspio bordejado por Rússia, Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Irã e Azerbaijão. Por sua vez em Levítico (2:13) o sal era enaltecido positivamente: “… Todas as suas ofertas de cereais temperarás com sal; não deixarás faltar a elas o sal do pacto do teu Deus; em todas as tuas ofertas oferecerás sal”. Em Juízes (9:45) como vingança e punição: “Abimeleque pelejou contra a cidade todo aquele dia, tomou-a e matou o povo que nela se achava; e, assolando-a, a semeou de sal”. Um outro exemplo de vingança com o uso de sal é contado por historiadores que afirmam que quando Cipião saqueou Cartago em 146 a.C., ele salgou o solo para garantir que nada cresceria na terra cartaginesa (https://greekreporter.com/2016/06/15/salting-greece/) (Figura 1). Por outro lado, Ezequiel (16:4) mostra o sal como material de preservação e assepsia: “E, quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água, para te alimpar; nem tampouco foste esfregada com sal, nem envolta em faixas”. Mateus (5:13) no Novo Testamento, por sua vez indaga sobre o uso adequado do sal: “Vós sois o sal da terra; mas se o sal se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor? para nada mais presta, senão para ser lançado fora, e ser pisado pelos homens “, da mesma forma em Marcos (9:50) e Lucas (14:34).
Figura 1 – Romanos salgando os solos de Cartagena, na Grécia Antiga, como forma de impedir a agricultura.
Fonte: https://greekreporter.com/2016/06/15/salting-greece/
Vale ressaltar que os sais, foram fundamentais para o desenvolvimento das grandes navegações, ou seja, descoberta do Globo Terrestre, que era formado por mundos menores fragmentados, sem contato entre si, até então. O sal permitiu conservar alimentos para grandes e demoradas jornadas, mas que ao mesmo tempo também provocou severos problemas de saúde, que se estendem aos dias atuais.
Se o sal, subentendido a halita, pois é sempre o seu principal componente mineral, empregado na alimentação do cotidiano caseiro, foi importante para a história e o desenvolvimento da humanidade, ele ainda não perdeu de forma alguma este status, e continua cada vez mais firme. Atualmente os sais, em especial aqueles dominados por halita ou silvita, são aplicados em todos os ramos industriais e em larga escala: agricultura, indústria química, alimentícia humana e animal, processamento e conservação de alimentos, medicina e limpeza, entre outros. São sem dúvida, tanto halita como silvita, os minerais mais versáteis desde os tempos primordiais da humanidade.
PROPRIEDADES FÍSICAS E QUÍMICAS
A halita é de fácil identificação física e química por conta de seu sabor salino forte, ser em geral incolor, ou ligeiramente colorida, de brilho vítreo, dureza baixa (2,5 na escala de Mohs), densidade 2,17 (g/cm3), clivagem perfeita {100}, transparente a translúcida e prontamente solúvel em água. Está presente em todos os textos sobre minerais, desde os básicos até os mais avançados (recomenda-se por exemplo a leitura de Unal, 2021, Halite). Ocorre frequentemente sob cristais cúbicos euédricos (Figura 2), isolados ou em múltiplos agregados, sendo assim vistos e formados em locais de clima seco, semiáridos a áridos, ou em lagos e mares salinos, ao longo de grande parte do tempo geológico e também do presente. Na atualidade é mais comum ser encontrada, portanto, em regiões de baixa umidade, por conta de sua elevada solubilidade em água.
Sua composição química é muito simples, com fórmula mínima NaCl: Na = 39,34 % e Cl = 60,66 %. Mas como em geral ocorre associada a outros sais, além de Na e Cl, pode conter pequenas concentrações de K, Mg, Ca e S (Tabela 1).
Tabela 1 – Composição química para halita natural (1 – Cardona, Barcelona, Espanha) e halita sintética (2). Fonte: https://handbookofmineralogy.org/pdfs/halite.pdf.
| Elemento |
1 |
2 |
| Na |
39,00 |
39,34 |
| K |
0,12 |
|
| Mg |
0,03 |
|
| Ca |
0,08 |
|
| Cl |
60,27 |
60,66 |
| SO4 |
0,27 |
|
A halita, é isométrica, classe cristalina 4/m -3 2/m, grupo espacial F m3m, portanto cela unitária de faces centradas (Figura 2), ao = 5.6402 Å, Z = 4; V = 179.43 Å3. Principais reflexões de DRX com respectivas intensidades relativas (I/Io): 2.821(1), 1.994(0.55), 1.628(0.15); para halita sintética: 2.821 (100), 1.994 (55), 1.628 (15), 3.258 (13), 1.261 (11), 1.1515 (7), 1.410 (6) (https://handbookofmineralogy.org/pdfs/halite.pdf, acessado 01.08.2025) (Figura 3). Principal forma: {100}. Em sua estrutura cristalina os íons Na1+ e Cl1- estão em coordenação octaédrica [VI] em ligações tipicamente iônicas, com distância Inter atômica de 2,8 Å (Figura 2), o que lhe favorece a elevada solubilidade na água e dureza baixa.
Figura 2 – À esquerda agregado de cristais cúbicos de halita do depósito de potássio de Stassfurt, na Alemanha, importante produtora de sais para indústria química e de fertilizantes (Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Halite, acessada em 31.07.2025). À direita modelo para organização básica da estrutura cristalina, tipo halita, em que as esferas cinzas representariam os íons Na+ e as vermelhas os íons de Cl– (ou vice-versa), em coordenação octaédrica (NC = VI).
Figura 3 – Difratograma de raios X para halita.
(https://geo.libretexts.org/Bookshelves/Geology/Mineralogy_(Perkins_et_al.)/12%3A_X-ray_Diffraction_and_Mineral_Analysis/12.01%3A_X-ray_Diffraction/12.1.15%3A_Data_and_Processing, acessado em 31.07.2025.).
AMBIENTES GEOLÓGICOS DE FORMAÇÃO E PRINCIPAIS DEPÓSITOS MINERAIS
As 10 Principais Históricas Minas de Sal do Mundo
Segundo https://www.materialtestingexpert.com/aggregate/top-10-salt-mines-in-the-world (01.08.2025) as 10 principais minas de sal do mundo, principalmente pelo seu exotismo e uso do espaço, são:
Figura 4 – Mina de sal Wieliczka, Polônia, mostrando a capela da Santa Cruz.
https://www.materialtestingexpert.com/aggregate/top-10-salt-mines-in-the-world
Figura 5 – A Catedral de Sal na Colômbia.
https://www.materialtestingexpert.com/aggregate/top-10-salt-mines-in-the-world.
Ambientes Geológicos de Formação da Halita e Sais Associados
A halita é um mineral, como dito, que se encontra praticamente por toda a Terra, distinguindo-se apenas na quantidade, qualidade e produção, encontrada principalmente associada a evaporitos, que se formam a partir da evaporação da água salina, dos oceanos e mares, do passado geológico e do presente. Mares subsalinos a salinos também são muito frequentes. Regiões semiáridas e desérticas também ocupam grandes áreas das terras firmes, a exemplo de boa parte da África, do extremo oriente, da Austrália e das Américas como nos EUA (em vários estados), do México, do Chile, da Argentina e da Bolívia. A quantidade de pesquisas e publicações sobre os ambientes de formação dos sais, em que a halita, é o destaque, é enorme, dado a sua grande importância ao longo da evolução cultural humana e seu aspecto econômico cada vez mais crescente e diversificado. Mas o seu domínio no ambiente evaporítico, o torna um mineral tipicamente sedimentar, tanto nos mares antigos no tempo geológico como nos atuais. As grandes reservas de sais marinhos, como apresentados anteriormente, quanto alguns aspectos históricos, culturais e turísticos, estão atualmente na Bielorrússia, Canadá, Rússia, Alemanha, EUA, China, Israel, países do Extremo Oriente (Figura 6), e mesmo Brasil. Em vários casos estão relacionados com os campos de petróleo e gás, em que sais de potássio tem grande destaque.
Figura 6 – Distribuição das reservas mundiais de sais de potássio em 2023, aos quais estão associados os de sódio, como halita. Os sais de potássio são empregados especialmente como fertilizantes. Fonte:
Os sais de potássio, representado por silvita, KCl, além de carnalita, KMgCl3•6(H2O), quando juntos formam a rocha silvinita, são empregados especialmente como fertilizantes, enquanto a halita, NaCl, é o mineral principal dos sais clássicos de uso na preparação e conservação de alimentos, bebidas e medicamentos, na alimentação animal, no descongelamento de ruas e rodovias, e como fonte de sódio e cloro para a indústria química (ácido clorídrico e perclórico, soda cáustica, produtos de limpeza etc.). Essa halita é obtida principalmente por evaporação solar de água do mar, nos campos litorâneos, denominados de salinas. No caso do Brasil elas se situam no litoral do Ceará e Rio Grande do Norte.
Em solos de terrenos semiáridos a áridos (desertos quentes) é comum a eflorescência de sais como halita, que é apreciado pelos animais, principalmente bovinos, equinos e caprinos, além de várias espécies de animais selvagens. As passagens bíblicas que citamos se desenrolaram em ambientes semiáridos e desérticos, portanto, frugais em depósitos destes tipos, além daqueles relacionados a mares e lagos interiores, salinizados, a exemplo do mar Morto em Israel (Figura 7). Atualmente Israel explora sais deste mar em larga escala, incluindo os de magnésio, para produção de magnésio metálico. Esse arealmente minúsculo País em termo de extensão geográfica, é um grande fornecedor de sais de potássio e ainda fertilizantes fosfatados para o Brasil, além de tecnologia agrícola. Nos campos e playas de desertos salinos do Chile, Bolívia e Argentina, halita é o mineral dominante, e associado a concentrações elevadas de lítio, e assim uma das principais fontes potenciais deste metal, de vital importância para o avanço das energias sustentáveis, ou transição energética atual, classificado como metal estratégico ou crítico.
Halita do mar Morto, Israel.
Os depósitos de sais do mar Morto são conhecidos há milhares de ano, são bíblicos e, portanto, fazem parte da história antiga da humanidade. Às suas margens afloram espessos pacotes de evaporitos com camadas e bolsões de halita pura, maciça e em cristais cliváveis (Figura 7). Israel extrai sais de sódio, halita, potássio, silvita e silvinita (mistura naturais dos dois sais) das águas desse mar, e além da produção de sais, produz magnésio metálico. Para mais informações consulte Röser (2001).
Figura 7 – Depósitos de evaporitos às margens do mar Morto, em Israel, com atividades exploratórias e detalhe de camadas de halita estratificada. Imagens do acervo do autor. 1997.
Halita do litoral do Ceará – Rio Grande do Norte (Icapuí)
Na região costeira da região entre Ceará (salinas de Icapuí) e Rio Grande do Norte, desenvolve-se a produção de sal, para consumo humano e alimento animal, constituído principalmente de halita, através dos processos sequestro da água oceânica para bacias, diques isolados, e precipitação por evaporação solar, ilustrado nas imagens a seguir, obtidas em 11 de novembro de 2023, ao entardecer, pelo autor (Figura 8).
Figuras 8 – Extração de sal, halita, por evaporação no litoral de Icapuí, Ceará. Imagens do acervo do autor. 2023.
Halita do Salar Uyuni, Bolívia.
Este é considerado o maior deserto de sal do mundo, a 3.656 m de altitude, na borda da cordilheira andina, na Bolívia. Domina o mineral halita, que é relativamente rico em lítio, um metal estratégico, crítico, crucial para produção de baterias, especialmente para os carros elétricos, dentro da política mundial de energias limpas. Suas reservam correspondem a mais de 50% das reservas mundiais para este metal, porém ainda não se encontram em lavra. A imagem a seguir ilustra a grandeza deste salar. Imagem do autor, captada em novembro de 2016 (Figura 9).
Figura 9 – Planície de sal, no salar Uyuni, Bolívia, lago salino, dominado por halita, em geral contendo concentrações anômalas de lítio. Detalhe das vênulas ou suturas dos cracks com halita e um hotel construído com blocos de rocha a halita (evaporito). Imagens do acervo do autor. 11/2016.
Halita de Halle (an der Saale, Alemanha)
A produção de sal, equivalente a halita, predominantemente, em Halle (no Saale, Alemanha) remonta a idade do Bronze e que se estendeu até a atualidade, a partir de quatro fontes: Meteritz (estabelecida em 803), Gutjahr, Hacke e German Born. Destas apenas a Gutjahr chegou até 1950, quando se tornou inacessível. Finalmente a área e a infraestrutura de extração e beneficiamento da então Royal Prussian Saline foi transformada em Museu de Sal (Halloren- und Salinemuseum ou Technical Hallors and Saline Museum), em 1967 e se apresenta como uma das principais atrações da cidade de Halle. Halle é uma bela histórica, cidade terra do famoso compositor Händel. Os depósitos de sais de Halle, com cerca de 200 m de espessura, compreendem tanto halita (Figura 10), como sais de potássio, como silvita, e são de origem marinha, depositados durante o Permiano e deslocados por falhas durante o Cretáceo.
Figura 10 – Manifestações secundárias de sais, com destaque para halita no Saline Museum, em Halle an der Saale, Alemanha.
Fonte: https://www.salinemuseum.de/, acessado em 05.08.2025. Recomenda-se visitar esta página e assistir ao filme sobre a história geológica de Halle, com ênfase às camadas de sais.
Halita da Pedra Grande do Gurupi
Na pequena ilha denominada de Pedra Grande do Gurupi, situada alguns quilômetros em frente a embocadura do rio de mesmo nome, fronteira Pará – Maranhão, no Brasil, em pleno oceano Atlântico, encontram-se agregados de cristais milimétricos de halita, incolor, transparente. Esses agregados se formam nas paredes e cavidades da crosta ferruginosa fosfática (fosfatos de Ca-Fe e de Al: mitridatita, dufrenita, crandallita-goyazita etc), que recebem água do oceano por impacto das ondas, e ao evaporar, deixam precipitar a halita, e ao longo tempo levam a neoformação de gipso, portanto em plena região tropical.
Halita da Austrália (Western Australia)
A Austrália é um país gigante, com a maior parte do seu território formado por terrenos áridos (desertos rochosos e salinos) e semiáridos (ocupados por arbustos e gramíneas), e regiões úmidas mais restritas à sua borda oriental. Nas regiões desérticas e semiáridas os sais e minerais de sílica (silcrete) dominam em superfície e mesmo em subsuperfície (Figura 11). Entre os sais é comum halita, calcita e gipso, na forma de eflorescência e ocupando fraturas e bolsões em crostas ferruginosas, saprólitos e solos (imagem a seguir). A Austrália é uma grande produtora de sais, especialmente halita, por evaporação da água do mar desviada para tanques enormes, situados em sua região ocidental e destinados a inúmeros usos.
Figura 11 – Crosta ferruginosa até a zona saprolítica entrecortadas por vênulas pedogenéticas normalmente contendo halita, calcita e gipso, por vezes sílica amorfa (opalina) a calcedônia. Imagem do acervo autor obtida em 05.1995 (código A168-2).
Halita em São Miguel, Açores, Portugal
Atualmente na região de Furnas, em São Miguel, Açores, destacam-se como características de sua paisagem intensa as belas atividades das fumarolas, em consequência de vulcanismo recente, por enquanto adormecido, mas que aquece uma grande quantidade de água que se infiltra e se acumula nas fissuras, fraturas e caldeiras, quando vem a formar belos lagos e lagoas. Destas se destaca a lagoa de Furnas. As águas dessas fumarolas podem atingir temperaturas de até 100oC e formam densos vapores, que levam a precipitação e exsudação de vários minerais hidrotermais de baixa temperatura, como sais, hidróxidos de ferro e aluminossilicatos (Figura 12). Detalhado estudo de caracterização físico-química e isotópica das águas termais do vulcão das Furnas foi realizado por Freitas (2017). Entre os sais estão halita, gipso, alunita, sílica opalina (hyalita), entre outros. O calor dessas fumarolas são empregadas para o cozimento de alimentos, uma forte tradição local.
Figura 12 – Precipitações e eflorescência de sais nas fumarolas da região das caldeiras do vulcão das Furnas, ilha de São Miguel, Açores, Portugal. Os tons claros representam sais e possivelmente opala e os marrons avermelhados, hidróxidos de ferro, em geral amorfos. Imagens do acervo do autor, 2023.
CONCLUSÕES
A halita é portanto um dos minerais que acompanha a evolução humana no seu todo, carregado de benefício, mas também de alguns malefícios. Um mineral que se desenvolve em ambientes simples e é encontrado no mundo inteiro, que no passado distante, era de difícil de obter, nos tempos modernos, relativamente simples, e abundante, e por conseguinte acessível economicamente.
REFERENCES
Freitas, A.R.R. 2017. Caracterização e Avaliação do Recurso Hidromineral das Quenturas, Vulcão das Furnas, Ilha de S.Miguel (Açores). Dissertação Mestrado em Geologia Aplicada Especialização em Hidrogeologia, UNIVERSIDADE DE LISBOA, FACULDADE DE CIÊNCIAS, DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA, Lisboa, 156p.
Glocker E.F. 1847 Ordo XVIII. Hydrolyti. I. Hydrolyti ametalli. 6. Halites, in Generum et Specierum Mineralium, Secundum Ordines Naturales Digestorum Synopsis Apud Eduardum Anton 288-304.
https://rruff.info/uploads/Glocker_1847_290.pdf (acessado em 28.07.2025).
Röser, H. 2001. Über das Salz von der Erde und das Gold vom Ophir. DerAufschluss, 3: 130-161.
Unal, A. H. 2021. HALITE: A REVIEW ARTICLE.
https://www.ahmethamdiunal.com/_files/ugd/e76d21_6ab54ce6f96b4d1ab8ed8626772e0fc0.pdf?index=true, acessado em 30.07.2025.
https://greekreporter.com/2016/06/15/salting-greece/, acessado em 30.07.2025.
https://www.webmineral.com/data/Halite.shtml, acessado em 30.07.2025.
https://handbookofmineralogy.org/pdfs/halite.pdf, acessado 01.08.2025