Ano 03 (2016) - Número 04 Artigos
Flávia Olegário Palácios, Professora da FAV/ICA/UFPA e do PPGAU/ITEC/UFPA, Pesquisadora do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (LACORE/UFPA)
Rômulo Simões Angélica, Professor da FAGEO/UFPA e do PPGG/IG/UFPA, Coordenador do Laboratório de Caracterização Mineral (LCM/UFPA)
A cidade de Belém teve expressivo crescimento econômico durante o Ciclo da Borracha, iniciado na metade do século XIX até o início do século XX. Com o crescimento urbano acelerado, era necessária a implantação de novas edificações e embelezamento das existentes, criando cenário propício à instalação de edifícios de fácil construção e montagem e de peças de ornamentação. Logo, os edifícios e ornamentos em ferro eram a solução adequada para suprir as demandas do crescimento acelerado da cidade (Figura 01 A e B) (DEREJI, 1993; KUHL, 1998).
Apesar de serem testemunhos relevantes de técnicas construtivas, alguns desses edifícios foram desmontados, ornamentos descaracterizados e permanecem no aguardo de ações de restauro (Figura 01C). Enquanto isto encontram-se expostos às ações do intenso intemperismo tropical amazônico.
Nesse sentido, no esforço de preservar a memória do patrimônio edificado da arquitetura de ferro, o LACORE, em parceria com os laboratórios do GMGA, também desenvolve pesquisas acerca dos edifícios e ornamentos metálicos, no que tange as permanências e estudo dos materiais, abrangendo também os produtos de intemperismo. As pesquisas iniciaram em 2008 em edifícios inteiramente metálicos, dentre o antigo chalé da Imprensa Oficial do Estado do Pará (IOEPA) e Mercado de ferro do Ver-o-Peso, e posteriormente os ornamentos do Cemitério Nossa Senhora da Soledade. Foram identificados tipos diferentes de ligas de ferro e diferentes formas do avanço da corrosão, utilizando técnicas instrumentais tais como a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e Difratometria de Raios-X (DRX) (PALÁCIOS et al, 2014) (Figura 02).
Atualmente, está sendo desenvolvida a documentação de ornamentos metálicos importados da Walter MacFarlane’s, fábrica britânica que exportou de forma intensa para a capital paraense. Tal fábrica importou desde ornamentos até estruturas de edifícios para Belém, como , por exemplo, as estruturas internas do Mercado de Carne.
A pesquisa conta com as etapas de marcação das calhas ornamentadas nos bairros de Belém, para definir a quantidade e os diferentes tipos utilizados, comparando com os catálogos antigos da fábrica. Posteriormente será realizado o estudo dos metais, incluindo pesquisa física, química e mineralógica.
A importância do patrimônio edificado em ferro como manifestação artística e histórica existente em Belém induz à necessidade de constantes pesquisas voltadas para a conservação deste material, em virtude do violento processo de degradação e destruição.
Derenji, Jussara da Silveira. Arquitetura do Ferro: Memória e Questionamento. Belém: CEJUP, 1993.
Kulh, Beatriz Mugayar. Arquitetura do Ferro e Arquitetura Ferroviária em São Paulo – Reflexões sobre a sua Preservação. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998.
Palacios F.O., Angelica R.S., Sanjad T.A.B.C. The metal alloys from the XIX century and weathering action in the Mercado de Ferro do Ver-o-Peso building, northern Brazil: Identification with the usage of laboratory analysis. Materials Characterization, n. 96, p. 225-233, 2014.
Pontes, Lilia Fonseca de Brito; Reis, Liana Magalhães; Duarte, Lucia Montenegro. Chalé de ferro. 1978. 32f. Trabalho Final de Graduação (Graduação) – Universidade Federal do Pará, 1978.