16 – Vogelsberg, Alemanha: lateritos miocênicos em plena Europa Central! Seriam possíveis?

Ano 02 (2015) - Número único Artigos

Marcondes Lima da Costa, Curador do Museu de Geociências/UFPA

 

Alguns depósitos lateríticos conhecidos pelo mundo afora sempre me intrigaram, em geral eles são jovens e estão em regiões climáticas e paleoclimáticas incompatíveis com a lateritização. Vogelsberg Mounts na Alemanha é um deles. Seus depósitos foram muito importantes para o País, que os explorou como fonte de Fe e Al desde o início do século 20 e se estendeu até os anos 1990. O apogeu foi durante a segunda guerra mundial, por motivos óbvios. Os lateritos de Vogelsberg foram muito bem estudos por Harrassowitz (1926), que os descreveu de forma detalhada, incluindo sua mineralogia e composição química, demonstrou a riqueza em Al e Fe, e reconheceu a sua íntima derivação dos basaltos miocênicos (17 a 15 Ma) da região pela lateritização. É marcante a distribuição das formações lateríticas restritas apenas ao domínio desses basaltos. O material argiloso sob o domínio de nódulos de oxi-hidróxidos de Fe-Al em matriz terrosa foi denominado de Roterde por Schellmann (1966) enquanto a zona de nódulos de laterito. Schwarz (1997) desenvolveu trabalho completo e discute a importância paleoambiental dessas formações. Recentemente Leonardo Boiadeiro Negrão por força de atividade prática de disciplina por mim ministrada, analisou e discutiu os dados obtidos a partir de 4 amostras que coletamos com colegas da Halle in loco, quando preenchi parte de minha grande curiosidade sobre Vogelsberg. A ida a Vogelsberg foi um pedido meu ao prof. Herbert feito aanos atrás e que se concretizou em 17.09.2015. Nesta empreitada participaram além de nós dois (Marcondes e Herbert), o Dr. Thomas Deggen, que além de motorista foi o geólogo cabeça, desbravou a área, desceu na cava, ajudou a coletar e embalar as amostras; Dra. Suyanne F. S. Rodrigues que entrou na lama (chovia sem parar), e Edinaldo Tavares e Edna Trindade que assistiam tudo de longe, capturando imagens. Como a área já foi muito explorada, boa parte do material laterítico já foi lavrado, mas ainda foi possível fazer algumas observações e coletar amostras. Mas minha desconfiança continua, pois minhas observações demonstram que alguns depósitos lateríticos, ou de material laterítico equivalente, seja de origem subvulcânica. O melhor exemplo para isto está na península de Kamchatka, na Rússia, onde pretendo ir o mais breve possível, após a rápida visita a Vogelsberg em Lich. O belo trabalho divulgado em poster por Filatov et al na EMC (European Mineralogical Conference) em 2012, Frankfurt, em que abordam a formação de hidróxidos de alumínio nas condições imaginadas, me recomenda a dar continuidade a minha investida. E os exemplos de lateritos não lateríticos não são tão poucos. Que ironia, não!?

 

Figura 1. EMC – Frankfurt 2012: Dr. Filatov e Marcondes em Frankfurt; Arredores de Lich nos morros de Vogelsberg próximo a mina Eiserne Hose; a cava abandonada em campos atuais de agricultura; Dr. Deggen coletando amostras.

 

REFERÊNCIAS

Harrasowitz, H.1926. Laterit – Material und Versuch erdgeschichtlicher Auswertung. Fortschritte der Geologie und Palaeontologie, Verlag von Gebrueder Borntraeger, Berlin. P. 253-566.

Schwartz, T. 1997. Lateritic bauxites in Central Germany and implication for Miocene paleoclimate. Paleogeography, paleoclimatology and paleoecology, 129: 37-50.