09 – UMA HOMENAGEM A HERBERT PÖLLMANN ATRAVÉS DO “QUARTO DAS MARAVILHAS” DE ARACATI-CEARÁ

Ano 09 (2022) – Special Issue on Herbert Artigos

 10.31419/ISSN.2594-942X.v92022iSpeciala9MESX

 

 

Milson Edmar da Silva Xavier

Grupo de Mineralogia e Geoquímica Aplicada – Geólogo e Engº de Segurança do Trabalho, milsonest@gmail.com

 

ABSTRACT

This work responds to the call of the editor of Bomgeam in its edition 9 (2022) Nr.1 and in thanks to the honored Prof. Dr. Herbert Pöllmann (in memoriam) for his participation in a literary event in Belém, on the occasion of the launch of the book “O que evitar nas apresentações em PPT”, which took place in 2012, accompanied by the editor Prof. Dr. Marcondes Lima da Costa, prefacer of this book. Some requirements for the organization and conservation of the museum collection are presented, based on the scarce bibliographic reference and on observations made during visits to museums. In Brazil, specific legislation on museums is governed by Law No. 11,904, of January 14, 2009 (Museum Statute). This law defines and excludes from the Museum Statute the “visitable collections”, eliminating in its organization the requirements imposed on museums. As a materialization of this tribute, the “Wonder’ Room” (Quarto das Maravilhas) of Aracati-CE is used, a kind of personal museum or one of those “visitable collections” provided for by the legislation, to describe the numerous possibilities of dividing the mineralogical collection into thematic collections and applying the requirements organization and conservation of mineralogical specimens.

Keywords: Law No. 11,904, of January 14, 2009; personal museum; visitable collections; mineralogical collection; conservation.

 

RESUMO

Este trabalho atende ao convite do editor do Bomgeam em seu número 1, Ano 9(2022) e em agradecimento ao homenageado Prof. Dr. Herbert Pöllmann (in memoriam) pela sua participação em evento literário em Belém, por ocasião do lançamento do livro “O que evitar nas apresentações em PPT”, ocorrido em 2012, acompanhando o editor Prof. Dr. Marcondes Lima da Costa, prefaciador da obra.  São apresentados alguns requisitos de organização e conservação de acervo museológico, baseados na ainda escassa referência bibliográfica e em observações nas visitas aos museus. No Brasil, a legislação específica sobre museus é tutelada pela lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009(Estatuto de Museus). Esta lei define e exclui do Estatuto de Museus as “coleções visitáveis”, suprimindo na sua organização as exigências impostas aos museus. Como materialização dessa homenagem é utilizado o “Quarto das Maravilhas” de Aracati-CE, uma espécie de museu pessoal ou uma dessas “coleções visitáveis” previstas pela legislação, para descrever as inúmeras possibilidades de dividir o acervo mineralógico em coleções temáticas e aplicar os requisitos de organização e conservação dos espécimes mineralógicos.

Palavras-chave: Lei 1.904 de 14.01.2009; museu pessoal; coleções visitáveis; coleção mineralógica; conservação.

 

INTRODUÇÃO

A amizade, se posso pretender assim, do Professor Marcondes, resultou na obtenção de algumas informações sobre o  também professor Dr. Herbert Pöllmann, mais precisamente por sua paixão em coletar amostras de minerais pelo mundo afora, mas com grande ênfase ao Brasil e em, não vou falar “investir”, consumir seus recursos financeiros com esse prazer que cinge tantos os renomados mineralogistas como um simples graduado em geologia que sequer tenha atuado na área, como este que aqui externa seus sentimentos para com a perda precoce desse profundo amante da mineralogia.

Dentre algumas conversas que tive com o Professor Marcondes sobre o Dr. Herbert Pöllmann, uma foi sobre sua coleção de amostras. Seu currículo é incontestável e indicador de sua paixão pela Mineralogia e Cristalografia e, aqui, aproveito para revelar que o homenageado não chegou a catalogar todas as suas amostras de rochas, minerais e minérios coletados ao longo de sua curta, mas produtiva, carreira de aventureiro apaixonado pelas ciências da Terra. A preocupação inicial, penso eu, estaria no aproveitamento do tempo para colecioná-las e, como estava na iminência de uma aposentadoria, deixou algumas, poucas, para esse tempo ocioso e prazeroso que é a aposentadoria. Falo de cátedra, pois estou vivendo esse período e organizando um pequeníssimo museu com acervo pessoal, entre os quais estão as amostras coletadas durante a graduação e após a aposentadoria de área alheia às Geociências, dentre as quais as coletadas durante as participações nas Excursões Pitorescas-Científicas idealizadas pelo Prof. Marcondes. Este acervo pessoal tem o tratamento jurídico de “coleções visitáveis”, segundo a legislação pertinente.

Que isto sirva para despertar aos iniciantes das Ciências da Terra essa paixão que não tem preço, mas sim um valor inexplicável que certamente o homenageado sabia e seus adeptos entendem.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

O material utilizado na elaboração deste trabalho compreende um pequeno acervo mineralógico(minerais e minérios) e amostras de rocha que vêm sendo coletadas desde as excursões do curso de graduação em Geologia pela UFPA, passando por aquisição em viagens a outros estados, feiras de congressos de Geologia, aquisição em antigas bancas de revistas quando, através de periódicos semanais, vendiam um exemplar com direito a uma amostra do mineral em estudo na revista,  além do material coletado, a partir de 2018, nas Excursões Pitorescas organizadas pelo Prof. Dr. Marcondes Lima da Costa.

Utilizou-se ainda alguns equipamentos e materiais elementares na identificação macroscópica de minerais, conforme proposto em Costa (1996) tais como lupa, placa áspera de porcelana branca, imã, ácido clorídrico diluído (ácido muriático diluído), escala de dureza, balança digital 10kg marca 123ÚTIL, livros-texto de mineralogia e um microscópio digital USB 2.0 / 50X a 500X marca RoHS.

Por último, foram efetuadas pesquisas na legislação brasileira para delinear o arcabouço jurídico sobre museus quanto a sua natureza jurídica.

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao longo de alguns anos, mas com interrupções devido exercício de atividade alheia à Geologia, foram coletadas amostras de rochas, minérios e espécimes minerais com o intuito de compor uma seção no espaço que denomino de “Museu Pessoal”, na cidade de Aracati-CE. Neste, reúno diversos objetos, os mais variados possíveis, que de alguma forma fizeram parte de minha vida, desde à infância até os dias atuais. Não chega a ser um “gabinete das curiosidades ou Quarto das Maravilhas de Worm”, uma referência aos cômodos da habitação que reuniam objetos dos então chamados reinos animal, vegetal e mineral, muito comum durante os séculos XVI e XVII por ocasião da Era dos Descobrimentos (figuras 1-A e 1-B).

Entretanto, sendo um museu pessoal ou “Quarto das Maravilhas” denominado a partir daqui neste trabalho, cuidados e regras devem ser seguidas para que a coletânea transmita a finalidade da exposição e revele o zelo, a organização, a conservação e a paixão de qualquer organizador.

Os museus, no Brasil, estão tutelados por legislação específica. A lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009 institui o Estatuto de Museus. Este, define museus; enumera seus princípios fundamentais de acordo com o Plano Nacional de Cultura e com o regime de proteção e valorização do patrimônio cultural; permite a criação de filiais, seccionais e núcleos ou anexos; trata de fomentos e incentivos aos museus; define “coleções visitáveis” criadas, tanto por pessoa física como jurídica, com a finalidade de exclusão ao tratamento dado aos museus e alheias aos ditames do estatuto, similar às bibliotecas, aos arquivos e aos centros de documentação; dentre outros assuntos(BRASIL, 2022).

No caso deste trabalho, o “Quarto das Maravilhas” de Aracati-CE é enquadrado como uma dessas coleções visitáveis e, portanto, não sujeito às regras do Estatuto dos Museus. Assim, longe das formalidades estatutárias e legais, fica mais prazeroso o trabalho de organizar um “gabinete de curiosidades’, inclusive com uma seção de coleções mineralógicas (figura 1-C). Independentemente em ser um museu ou coleções visitáveis, as recomendações técnicas quanto à organização e conservação do acervo devem ser obrigatoriamente seguidas.

 

Figura 1. A- Quarto das Maravilhas de Worm. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/ Gabinete de curiosidades. B- Coletânea de objetos antigos em cômodo da habitação em Aracati-CE-(térreo); C- Vista panorâmica da seção de coleções geológicas e mineralógicas (mezanino).

 

Em 2012, em Belém-PA, por ocasião do lançamento do livro “O que evitar nas apresentações em PPT-PowerPoint”, tive a grata surpresa de receber, nesse evento, o Prof. Dr. Marcondes Lima da Costa (prefaciador da obra) acompanhado de seu amigo Prof. Dr. Herbert Pöllmann (homenageado neste trabalho). Devido essas coincidências da vida e o apreço ao professor Marcondes, além do que ele expressava sobre o homenageado, a responsabilidade sobre os cuidados na organização e conservação do acervo passa a ser muito maior. Desta forma, a seção de coleções mineralógicas do “Quarto das Maravilhas” de Aracati-CE, que já contém uma singela homenagem ao professor Marcondes (figura 2) e deverá receber a mesma reverência ao professor Herbert, consagrará, obrigatoriamente, essas recomendações técnicas.

 

Figura 2. Painel exposto no “Quarto das Maravilhas” de Aracati-CE em homenagem ao Prof. Dr. Marcondes Lima da Costa por ocasião de uma de suas estadias na cidade. Na figura 1-C este painel está posicionado à esquerda.

 

No caso específico da seção de coleções de geologia e mineralogia, as recomendações técnicas quanto a organização e conservação do acervo estão em (Brocardo, 1981; Azevedo, 2013; Azevedo & Del Lama, 2015, entre outros)

Estas recomendações estão sendo observadas na exposição de rochas, minérios e minerais do “Quarto das Maravilhas” de Aracati-CE.

Organização dos acervos

Como acima referido, as pequenas coleções visitáveis estão imunes das exigências legais e estatutárias, mas nada as impede de observar as boas técnicas recomendadas aos grandes museus.

Mesmo para essas instituições museológicas ainda é escassa a bibliografia científica normatizando as recomendações técnicas de exposição de minerais e rochas. Há apenas um misto de conhecimentos e experiências que transitam entre a Geologia, Museologia e Educação (Azevedo & Del Lama, 2015).

Entre os mandamentos do Estatuto de Museus está a livre criação da instituição museológica, inclusive com a liberdade de elaborar os programas, as normas e os procedimentos de preservação, conservação e restauração do acervo. Da mesma forma há total liberdade para criação de uma exposição do acervo, mas sempre buscando uma forma objetiva e atraente, sem renunciar ao objetivo proposto e visando ao público-alvo da exposição, caso tenha um público específico.

Sendo ou não direcionada a exposição a uma clientela específica, deve-se pensar no tipo de exposição que se pretende: clássica(contemplativa) ou moderna(interativa). A opção de exposição interativa foi a adotada pelo “Quarto das Maravilhas” de Aracati-CE, pois as amostras estão à disposição dos visitantes para manuseio e, em alguns casos, podendo levar algumas amostras de minerais e minérios da região de Aracati e arredores.

A organização clássica do acervo mineralógico utilizada pela maioria dos museus é através da classificação sistemática dos minerais por cada classe química, por exemplo: elementos nativos (diamante, ouro, prata, etc.), sulfetos (pirita, calcopirita, etc.), óxidos (hematita, cromita, rutilo, etc.), silicatos (olivinas, feldspatos, quartzo, etc.).

É importante salientar que apenas a composição química não é suficiente para a identificação de um mineral. São necessárias ainda informações da estrutura cristalina. Esta, aliada à composição química, são parâmetros fundamentais para a classificação mineral. Um curador que não tenha essas informações não está apto a organizar uma coleção científica de minerais (Azevedo, 2013).

Os procedimentos mais importantes para diagnósticos dos minerais utilizados na coletânea do acervo estão descritos em Costa(1996) e  em muitos manuais de mineralogia disponíveis em vários idiomas, tendo na Europa um berço esplêndido.

O acervo mineralógico foi idealizado e organizado com o objetivo de proporcionar aos visitantes um contato com a coleção e, ao mesmo tempo, tomar ciência da aplicabilidade do mineral no seu cotidiano. Para tanto, serão concentrados esforços para obtenção de 63 amostras de minerais mais importantes, constantes de uma lista de espécies próprias para uma pequena coleção de minerais proposta por Dana (1969) com 111 minerais relacionados, sendo o ouro com dois espécimes. Após a obtenção dos minerais mais importantes (63), ou paralelamente, serão incorporadas as demais 48 espécies minerais de menor importância, segundo o autor. Os minerais lepidolita, cianita. amazonita, pirolusita e topázio, além do minério de alumínio, a bauxita, constam dessa relação das 48 espécies menos importante e que já fazem parte do acervo neste momento. Cabe aqui ressaltar que o grau de importância atribuído pelo autor no ano de publicação da obra, citada na referência, não condiz com a realidade de hoje. O exemplo gritante dessa afirmativa é a importância que o minério de alumínio(bauxita) apresenta nos dias de hoje.

Os esforços agora para ampliar o acervo ficarão restritos às “Excursões Pitorescas”, além de aquisições monetárias em viagens, sites especializados, feiras e doações de amigos que queiram visitar o “Quarto das Maravilhas” em Aracati e desfrutar, também, de belas praias. Há também uma ótima oportunidade de aquisição em lojas esotéricas e religiosas, apesar da finalidade ser totalmente diferente para a Mineralogia.

Com a finalidade de proporcionar um ambiente de estudo, educação e deleite para os visitantes, o “Quarto das Maravilhas” almeja e propõe a organização de suas coleções visitáveis com os seguintes temas:

  • Classes químicas;
  • Dureza;
  • Clivagem, fratura e partição;
  • Cor, traço e brilho;
  • Tenacidade e propriedades especiais (fluorescência, magnetismo, eletricidade);
  • Forma do cristal;
  • Hábito
  • Importantes minerais formadores de rochas (Essenciais, >5%);
  • Minerais acessórios presentes nas rochas (Acessórios, < 5%);
  • Minérios e minerais minérios;
  • Gemas;
  • Recursos energéticos (Geologia aplicada para recursos energéticos);
  • Meus primeiros minerais;
  • “Minerais Minorias”: radioativos e asbestiformes (serpentinas e anfibólios) – discriminados e marginalizados;
  • Minerais fluorescentes;
  • Minerais do dia a dia – 16ª Semana de Museus-2018 – GMGA-UFPA (figura 3);
  • Geologia Histórica;
  • Minerais da construção civil, da indústria cerâmica e da eletrônica;
  • Halita (sal-gema) em Icapuí e petróleo em Aracati (figura 4)
  • Energia eólica e fotovoltaica;
  • Coleção proposta por Dana & Hurlbut.

Figura 3. Coleção de mineração no dia a dia. A- Painel da 16ª Semana de Museus, GMGA 2018; B- Base do estojo com o detalhe dos minerais, minérios e amostras de rocha.

 

Figura 4. A- Cristais de halita de salina em Icapuí-CE e petróleo da Fazenda Belém em Aracati-CE. B- Detalhes dos cristais de halita vistos através de microscópio digital USB 2.0 / 50X a 500X marca RoHS.

 

O acervo pode ainda ser enriquecido organizando coleções taxonômicas (isomorfismo, polimorfismo ou série de soluções sólidas), topográficas (por local de coleta, município, estado, país ou região), monográfica (silicatos, terras raras etc.), litológica, interesse especial etc. As possibilidades são infindáveis.

Outras coleções ainda podem ser elaboradas como os de interesse da magia, alquimia, astrologia, yogateria(chakras), religião ou tradições medicinas antigas. A coleção “Sete Chakras” foi adquirida com amostras das “pedras” divergentes da listagem com a descrição de cada representante da energia proposta, por exemplo, os representantes do 1º chakra são quartzo fumê ou granada; do 2º  são calcita laranja ou ágata cornalina; 3º, citrino ou topázio imperial (ausentes, incluíram um quartzo leitoso) ; 4º, quartzo rosa, quartzo verde, esmeralda ou turmalina verde, 5º azurita ou água marinha (ausentes, incluíram um jaspe vermelho); 6º, ametista, fluorita, cianita ou água marinha e 7º, ametista ou cristal de quartzo. Os representantes em negrito vieram na embalagem. (figura 5).

 

Figura 5. Coleção esotérica(Sete Chakras). Observar que na embalagem vem a relação das “pedras” correspondentes a cada chakra, entretanto, o mineral que a acompanha nem sempre corresponde à descrição. Na fileira da parte inferior do tabuleiro estão os chakras descritos na embalagem, como contribuição do “Quarto das Maravilhas de Aracati, sendo que o 5º chakra está em fase de “garimpagem”.

 

Outro item do acervo é o geológico. Este, compreende as amostras coletadas em atividade de campo durante as disciplinas de graduação em Geologia, nas visitas ao balneário da ilha de Mosqueiro (Belém-PA), em trabalhos de campo no município de Aracati e arredores e, principalmente, nas excursões “Pitorescas” idealizadas pelo professor Marcondes como atividades do GMGA-Grupo de Mineralogia e Geoquímica Aplicada, vinculado ao Museu de Geociências da UFPA.

Com a mesma finalidade de estudo, educação e deleite, o acervo exposto está dividido nas seguintes coleções:

A – Rochas magmáticas;

B – Rochas sedimentares;

C – Rochas lateríticas;

D – Rochas metamórficas;

E – Excursões Pitorescas (figura 6).

 

Figura 6. Coleção de amostras colhidas por ocasião da excursão ao Rio Grande do Sul, em 2019.

 

Infinitas outras formas de organizar o acervo existem. Tudo depende do objetivo a que se propõe o curador, do público-alvo da exposição, da forma contemplativa ou interativa dos visitantes e dos recursos financeiros disponíveis para essa paixão.

É determinação legal para os museus disponibilizar um livro de sugestões e reclamações disposto de forma visível na área de acolhimento dos visitantes. Boa prática ainda é a mesma disponibilidade de outro livro de assinatura de registro das visitas ao museu ou coleções visitáveis.

Outra obrigação imposta pelo Estatuto de Museus é a de manter documentação sistematicamente atualizada sobre os bens culturais que integram os acervos na forma de registros e inventários(Brasil,2022)

Conservação dos acervos

O problema da exposição interativa deixando os espécimes minerais sem acondicionamento adequado é prejudicial para o acervo. A poeira, o ar e a umidade relativa do ar são os principais agentes maléficos para uma boa parte dos minerais, assim como  a fotossensibilidade para alguns espécimes. A maioria dos minerais é relativamente estável.  Mesmo assim, constatamos nos grandes museus a imponência de seus mobiliários e a redoma em vidro para o acervo.

As amostras, em sua grande maioria, apresentam cavidades e interstícios que, por sua vez, são ambientes propícios para o acúmulo de pó, daí a nacessidade de limpeza regular, tanto para manter o acervo conservado como belo. Uma preocupação séria com essa limpeza frequente é a maior possibilidade de ocorrência de danos ao acervo devido as iminentes quedas no manuseio. A utilização de jato de ar ou de um limpador a vácuo para retirar o pó de minerais fibrosos é quase impossível.

Como medida de proteção, há remendação do uso de goma de laca. Entretanto, essa recomendação não é muito aceita pelos mineralogistas, uma vez que esse tratamento com revestimento brilhante altera o verdadeiro aspecto do mineral, assim como também impede de realizar alguns testes analíticos com o espécime.

A limpeza regular, em certas situações, requer o uso de água e a recomendação técnica apropriada é a borrifação de água destilada. Muitos minerais são solúveis na água como a halita, silvita, carnalita, etc., outros ligeiramente como gipsita, bórax e criolita e esse tratamento levaria os espécimes à destruição. Atentar para o caso da criolita que, por ter o índice de refração igual ao da água, aparenta ser invisível, só se solubilizando com longa exposição.  As micas, apesar de insolúveis, não devem ser lavadas, pois a água pode separar as suas lâminas de clivagem.

Para os minerais ligeiramente solúveis e que contenham elementos químicos suscetíveis à oxi-redução a recomendação é a guarda e exposição em estojos hermeticamente fechados. Os efeitos dessas reações de oxi-redução são por exemplo várias reações químicas que ocorrem na superfície de certos metais nobres na forma de elementos nativos como o cobre e a prata. No cobre forma uma pátina verde e indica a formação de carbonatos e/ou fosfatos e sulfatos de cobre. Para a sua limpeza jamais usar ácido sulfúrico ou clorídrico. A recomendação é a imersão da amostra em uma solução de ácido acético e água (1:10) e, em seguida, enxaguada em água destilada e esfregada com escova dura. Obviamente, que está gradualmente eliminando massa da amostra, no caso dos metais.

Inúmeras outras recomendações existem. O curador, ou colecionador, deverá adotar as medidas preventivas de conservação em detrimento às remediadoras, pois estas aumentam o custo de manutenção e gerenciamento do acervo, e até elimina um processo natural, que pode ser muito interessante para entendimento dos processos naturais ou antropogênicos.

A conservação profilática deve receber atenção por parte dos curadores, gerentes de coleção e diretores, uma vez que, minerais, como compostos químicos naturais, deixam poucas possibilidades de interferência sem sua alteração quimica. Por isso, conservá-los em seu estado natural é de extrema importância para que se evite o dispêndio com métodos caros de recuperação, ou com a própria perda do mineral(Azevedo, 2013). Aqui uma ressalva ao termo “estado natural” usado pela autora, pois a partir da retirada da amostra de seu ambiente natural (rocha no afloramento) ela passa a fazer parte do acervo do museu e já com as alterações que se processam após a sua retirada do afloramento.

 

CONCLUSÃO

O arcabouço jurídico relativo aos museus brasileiros define e exclui as coleções visitáveis em seu tratamento. Estas são imunes às exigências impostas àqueles. Contudo, as recomendações técnicas de organização e conservação do acervo são aplicáveis a ambos. Desta forma, uma homenagem fidedígna ao ilustríssimo Prof. Dr.Herbert(in memoriam)  não poderia deixar de, pelo menos, tangenciar essas preocupações.

O “Quarto das Maravilhas” em Aracati-CE ressente-se, em sua existência, de jamais poder contar com o registro da visita do homenageado que partiu tão precocemente deste mundo.

 

Agradecimentos

Ao Prof. Marcondes pelo convite que fez no Bomgeam número 1, ano 9 para que fossem  apresentadas contribuições espontâneas ao Special Issue do BOMGEAM sobre o Prof. Dr. Herbert Pöllmann (in memoriam).

Ainda ao Prof. Marcondes, agora como curador de museu, pelo seu incentivo e contribuições a esse trabalho.

 

REFERÊNCIAS

Azevedo, M.D.P. 2013. Conservação de coleções geológicas utilizando o acervo do Instituto de Geociências da USP. Dissertação – Mestrado: IGc/USP. 199p.:il. São Paulo. DOI 10.11606/D.44.2013.tde-11122013-142746 Disponível em https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44144/tde-11122013-142746/pt-br.php. Acesso em 08.08.2022.

Azevedo, M.D.P de; Del Lama, E.A.  2015. Conservação de coleções geológicas. Rev. do Instituto de Geociências – USP. Geol.USP, Pub. espec., São Paulo, v.7, p.105. DOI: 10.11606/issn.2316-9087.v7i0p5-105.  Disponível em https://repositorio.usp.br > bitstreams. Acesso em 08.08.2022.

Brasil, 2022. Lei nº 11.904, de 14 de janeiro de 2009. Institui o Estatuto de Museus e dá outras providências. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11904.htm. Acesso em 15.07.2022.

Brocardo, G. – 1981 – Pedras Preciosas e Outros Minerais – Guia de Identificação. Agência Siciliana de Livros. Disponível em https://www.ufrgs.br/museumin /MIN Cuidados.htm.  Acesso em 18.07.2022.

COSTA, M.L. Minerais, rochas e minérios – riquezas minerais do Pará. Belém: Falângola, 1996.

Dana, J.D. 1969. Manual de Mineralogia. V. 2. Ed. LT S/A e Ed. USP. 642p. Rio de Janeiro-GB.

Wikipédia, 2022. Gabinete de Curiosidades. Disponível em https://pt.wikipedia.org/ wiki/Gabinete_de_curiosidades. Acesso em 15.07.2022

 

 

 10.31419/ISSN.2594-942X.v92022iSpeciala9MESX