Ano 05 (2018) - Número 03 Artigos
10.31419/ISSN.2594-942X.v52018i3a9HPS
Hudson Pereira Santos1, Joelson Lima Soares1, Raiza Renne Leitão dos Santos1, Afonso César Rodrigues Nogueira1
1Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica, Universidade Federal do Pará, hudson@ufpa.br, jlsoares@ufpa.br, raiza.geo@gmail.com, anogueira@ufpa.br
Color cathodoluminescense (CL) in detrital quartz have been an important tool to the sedimentary provenance determination, mainly in units with poorly to absence heavy mineral assemblage. The Cretaceous Alter do Chão Formation exhibit CL in detrital quartz indicating metamorphic, volcanic, and igneous sources consistent with previous data based in heavy mineral assemblage. Absence of heavy mineral assemblage data of the Cambrian Raizama Formation led to interpretation of metamorphic and igneous sources based solely in CL in detrital quartz.
Keywords: Siliciclastic rocks; quartz cathodoluminescence colour; original source.
Classicamente a análise de proveniência sedimentar siliciclástica está fundamentada na diversidade de minerais pesados detríticos aliada a técnicas geocronológicas. Contudo, a análise de grãos de quartzo por catodoluminescência (CL) colorida vem sendo utilizada nas últimas duas décadas como um possível indicador da fonte de sedimentos. Em 1978, Ulf Zinkernagel pioneiramente investigou a relação entre a luminescência característica do quartzo e o tipo de rocha fonte em que esses minerais ocorrem. As características da CL dependem de variações de pressão, temperatura, ambiente geoquímico e de eventos subsequentes durante o desenvolvimento dos cristais de quartzo (Augustsson & Bahlburg, 2003). Assim, foi determinado que os grãos de quartzo com luminescência azul a violeta seriam característicos de rochas vulcânicas, plutônicas, e de metamórficas de contato e os com luminescência marrom seriam oriundos de rochas ígneas metamorfizadas, metassedimentos, algumas rochas de metamorfismo de contato e regional, e alguns quartzos autigênicos. Grãos de quartzo não-luminescentes seriam indicadores de uma origem diagenética. Após Zinkernagel (1978), outros trabalhos aprofundaram o estudo da relação entre a CL em quartzo e a sua origem sendo crescente o estudo da cor da CL por espectros de emissão (Matter & Ramseyer, 1985; Walderhaug & Ryllje, 2000; Pagel et al., 2000; Boggs et al., 2002; Augustsson & Bahlburg, 2003; Augustsson & Rekker, 2012; Oliveira et al., 2017), dessa forma funcionando como uma importante ferramenta para o estudo de proveniência sedimentar.
Foram analisadas 20 seções delgadas polidas de arenitos, sem lamínula, representativas de depósitos cambrianos da Formação Raizama e cretáceos da Formação Alter do Chão. Devido à natureza incoesa das amostras dos arenitos da Formação Alter do Chão foram confeccionadas seções delgadas de grãos soltos de quartzo tamanho areia média a grossa. Os dados foram adquiridos pelo microscópio óptico Leica DM4500 P LED acoplado a estação ótica de catodoluminescência colorida, Cambridge Image Technology Ltd. (CCL Mk5-2) no Laboratório de Catodoluminescência da Universidade Federal do Pará (LabCatodo-UFPa). As imagens de CL foram adquiridas com feixe de correntes de elétrons variando de 130 a 170 µA e voltagem de aceleração constante de 20 kV com tempo de exposição variando de 10 a 92s em ambos os casos.
Estudos de proveniência sedimentar baseada em assembleias de minerais pesados na Formação Alter do Chão são raros e indicam rochas metamórficas, sedimentares e ígneas plutônicas como as principais rochas-fontes (Mendes, 2015; Santos et al., 2017). O material analisado para CL em quartzo é originário de depósitos de canais fluviais da Formação Alter do Chão que afloram na região de Prainha, Estado do Pará. Nestes arenitos os espectros de CL mostraram que os grãos de quartzo apresentam cores que variam entre vermelho, azul, violeta e marrom, com diferentes intensidades. Entre estes grãos, cerca de 47% deles foram classificados como marrom avermelhado, 31% como azul escuro, 10% como azul brilhante, 7% como vermelho brilhante e 5% como violeta (Figura 1A-B).
Os grãos de quartzo com luminescência vermelha ou azul brilhante geralmente indicam cristalização em altas temperaturas e com rápido resfriamento, e costumam ocorrer em rochas vulcânicas ou afetadas por metamorfismo de contato. Por outro lado, quando as temperaturas de cristalização são mais baixas e resfriamento lento, o sinal de CL é menos intenso e os grãos normalmente aparecem em azul escuro, caracterizando rochas plutônicas (Boggs et. al., 2002; Augustsson & Bahlburg, 2003; Augustsson & Reker, 2012). Conforme Zinkemagel (1978), a origem da luminescência marrom avermelhada está relacionada metamorfismo de baixo grau, enquanto o espectro violeta possui origem vulcânica. O autor destaca que existe uma intensidade crescente geral no sinal de CL com aumento da temperatura de formação, indicando luminescências de maior intensidade em quartzos vulcânicos quando comparados com os de origem metamórfica. A observação dos sinais de CL mostra que os arenitos da Formação Alter do Chão têm uma população de grãos de quartzo com múltiplas origens a partir de rochas metamórficas, ígneas plutônicas e vulcânicas, reafirmando os resultados obtidos a partir da assembleia de minerais pesados em trabalhos anteriores. Entretanto, Boggs et al. (2002) destacam que é necessário cuidado ao interpretar os resultados obtidos por catodoluminescência, pois a codominância dos espectros azul e vermelho no quartzo pode dificultar a diferenciação deste mineral em diferentes tipos rochas.
A Formação Raizama não apresenta dados de proveniência sedimentar baseados em assembleias de minerais pesados, somente dados geocronológicos de zircão detrítico (McGee et al., 2015). Nesta unidade foram analisadas as amostras de depósitos de shoreface e de planície de maré que afloram na região de Nobres, Mato Grosso (Santos et al. 2014). A maioria dos grãos de quartzo exibe emissão de cor violeta (55 a 100%, Figura 1C-D), típica de fontes plutônicas, porém essas cores também podem indicar influência de fontes metamórficas de alta temperatura (Zinkernagel, 1978; Matter & Ramseyer, 1985; Walderhaug & Rykkje, 2000; Götze et al., 2001; Ritcher et al., 2003; Hooker & Laubach, 2007). Grãos de quartzo com luminescência marrom (45%) foram constatados somente nos depósitos de shoreface, e são indicativos de proveniência de fontes metamórficas de baixa temperatura (Walderhaug & Rykkje, 2000; Götze et al., 2001; Hooker & Laubach, 2007). Assim, a fonte sedimentar para os depósitos cambrianos da base do Grupo Alto Paraguai foram derivados de fontes metamórficas e ígneas plutônicas. Em resumo, emissões de CL em grãos de quartzo pode ser uma ferramenta importante na determinação da proveniência sedimentar em arenitos pobres ou sem minerais pesados.
Análises de quartzo detrítico por CL tem se mostrado um importante aliado para o estudo de proveniência sedimentar. Tais análises realizadas no LabCatodo-UFPa em dois estudos de caso, aqui expostos, indicaram que os sedimentos foram oriundos de fontes de distintas origens. No Cambriano, Formação Raizama, os sedimentos teriam sido derivados de rochas plutônicas e ígneas, enquanto no Cretáceo (Formação Alter do Chão) esses seriam provenientes de rochas metamórficas, ígneas plutônicas e vulcânicas.
Agradecimentos
Os autores são gratos ao Laboratório de Catodoluminescência do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará pela realização das análises em quartzo detrítico.
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