06 – PROFESSOR HERBERT PÖLLMANN, MUITO MAIS QUE UM DOKTORVATER

Ano 09 (2022) – Special Issue on Herbert Artigos

 10.31419/ISSN.2594-942X.v92022iSpeciala6LBAN

 

 

Leonardo Boiadeiro A. Negrão

Applications Specialist (XRD) – Malvern Panalytical, boiadeiro.negrao@gmail.com

 

Como começar esse texto? Falar (ou escrever) sobre uma pessoa querida que se foi, não é fácil. Principalmente quando isso acontece de forma inesperada. Quando finalmente comecei esse texto, percebi que apesar de difícil, é muito reconfortante traduzir tantas memórias boas em palavras.

Então, comecemos pelo início. Já se passaram mais de dez anos desde o meu primeiro contato com o Professor Pöllmann em uma de suas visitas ao Brasil. A primeira percepção foi curiosa, tentando entender por que esse “gringo” saíra do seu conforto pra ir até o calor escaldante de Belém do Pará suar a camisa. Em seguida, veio a admiração, assim que comecei a tomar conhecimento do seu trabalho. Essa admiração, diga-se de passagem, só aumentou ao longo dos anos, se estendendo desde o lado profissional até o pessoal. Em algum lugar nesse volume, ou em muitos outros textos fora daqui, já deve ter sido mencionado a importância do legado profissional do Professor Pöllmann. Não faz mal repetir, portanto faço questão de lembrar suas valiosas contribuições, que incluem diversos temas científicos pesquisados somando centenas de publicações, participação em eventos científicos no mundo inteiro e inúmeros profissionais (também de vários cantos do mundo) formados sob sua orientação, incluindo o que vos escreve.

Apesar de parecer intimidador, toda essa bagagem intelectual se moldava em um senhor de um metro e setenta e cinco de altura, com alguns quilos acima da média, barba e cabelos brancos, e, cheio de simpatia e bom humor. Muitas vezes ele iniciava um primeiro contato com uma cara fechada, sobrancelhas franzidas e com um tom de voz alto e áspero. Mas não se enganem, era só o prelúdio para uma piada, que inclusive ele adorava deparar em português, por mais que o ouvinte não entendesse – até porque isso o renderia mais alguns segundos de riso até que explicasse o significado em alemão, inglês, francês ou qualquer outra língua que ele dominasse. Não sei se era pelas piadas brasileiras, pela longa e admirável amizade com o editor desse boletim, ou simplesmente pela exoticidade que o Brasil poderia ter (ou ter tido) para ele, mas, o fato é que o Professor Pöllmann falava português muito bem e obviamente com o sotaque peculiar de qualquer outro alemão. Não por menos, os brasileiros estavam sempre o cercando no instituto. Só durante o tempo que trabalhei diretamente com ele, vi mais de dez brasileiros que passaram algum tempo no instituto da MLU em Halle.

 

Professor Pöllmann e eu em seu escritório após minha defesa de doutorado, no que se tornou nossa última foto juntos.

 

Eu, no tempo que passei na Alemanha, pude felizmente somar uns cinco anos em contato direto com ele. Os últimos anos foram bastante intensos. Uma soma de pandemia e mesmo do peso que um trabalho de doutorado trás, trouxeram desafios pessoais e profissionais que certamente devo a superação em muito ao Professor Pöllmann.

Para além do seu rigor científico, que podia vir com aquela cara fechada quando não respeitado, havia ali um líder nato, reconhecido e respeitado por professores, alunos, técnicos, demais colegas de trabalho, e, certamente pela indústria. A universidade era seu habitat natural. Não foram poucas as vezes que saí de lá tarde da noite e ele ainda lá estava disponível e com bom humor para conversar sobre o que quer que fosse, na maioria das vezes me chamando por “mein Hase” (meu coelhinho) como carinhosamente chamava muitos de seus alunos.

Para o choque de todos, o Professor Pöllmann se foi inesperadamente no dia 5 de maio de 2022. Apenas duas semanas e meia depois que conclui o doutorado sob sua orientação e retornei ao Brasil. Ainda na semana da sua partida, comemoramos uma publicação, trocamos fotos de alguns minerais, e planejamos nos encontrar na sua próxima viajem ao Brasil, que infelizmente nunca se concretizou. Depois de todo o desconsolo e reflexão sobre a brevidade que a vida é, ficaram a admiração, o reconhecimento, e o desejo natural de pôr em prática tudo o que aprendi com ele. Mais do que um orientador no doutorado, foi um amigo e exemplo de vida.

 

Em memória ao meu estimado, lieber Doktorvater, Professor Dr. Dr. Herbert Pöllmann.

Dein Hase

 

 

 10.31419/ISSN.2594-942X.v92022iSpeciala6LBAN