05 – O POTENCIAL DA ROCHAGEM NO NORDESTE DO PARÁ PARA O CULTIVO DE MANDIOCA

Ano 10 (2023) – Número 1 - Agrominerais Artigos

 10.31419/ISSN.2594-942X.v102023i1agromineraisa5LGCF

 

 

Luanny Gabriele Cunha Ferreira1; Francisco de Assis Matos de Abreu2

 

1Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais-PPGCA/UFPA. luanny_cunha@yahoo.com

2Professor Titular do Instituto de Geociências PPRH/UFPA, famatos@ufpa.br

 

ABSTRACT

The technology, called rochagem (stonemeal), is a recent and sustainable technical solution, increasingly used for the recovery and refertilization of agricultural areas with impoverished soils, using rock dust. In the Northeast of Pará – NEPA, cassava has great economic and social importance, and this region is the largest producer of cassava in Brazil. The great regional limit for the growth of this agricultural activity, in terms of productivity, is the nature of its soils and the human action of intensive and not very rational agricultural practices. To face this situation, in addition to detailing a little more what is Rocha do Solo and Remineralization, we consider geological and lithological aspects of the region in focus, aiming at the potential of sustainable cultivation of the culture. The edaphic parameters evaluated indicate its high geodiversity, which could provide the regional soils with all the macro and micronutrients necessary for their refertilization and, thus, the development of cassava.

Keywords: Cassava culture; manioc culture; rockfill; sustainability.

 

INTRODUÇÃO

Segundo a FAO (2013), o Brasil é considerado o sexto maior produtor mundial de mandioca. Há mais de 20 anos, o Pará se destaca no cenário nacional como o maior produtor de mandioca, com um volume, em 2017, superior a 4,2 milhões de toneladas de raízes, produtividade média de 14,3 kg/ha, e uma movimentação financeira em torno de 1,9 milhões de reais (IBGE, 2019; GROXKO, 2020). O grande impasse presente para o crescimento desta atividade agrícola é a natureza de seus solos, caracterizados como ácidos e de baixa fertilidade, bem como pela ação antrópica de práticas agrícolas intensivas e pouco racionais, originando assim, solos pobres e exauridos (MODESTO; ALVES, 2016). Uma tecnologia que poderá viabilizar a recuperação e fertilização sustentável em solos agrícolas, é a rochagem – incorporação de rochas moídas e/ou minerais ao solo, a qual poderá aumentar a produtividade da mandioca, gerando assim, economia de escala para esta cadeia de produção, como afirmado por Theodoro (2000).

O Estado do Pará, apresenta uma enorme potencialidade de crescimento da aplicação dessa tecnologia, haja vista, é considerado o segundo maior produtor nacional de minério (RIBEIRO; SILVA, 2018). Com isso abre-se uma perspectiva de se desenvolver mais essa atividade produtiva de insumos para o setor agrícola, a partir do uso de subprodutos gerados pela atividade mineral. Neste panorama, o objetivo deste trabalho, é de identificar áreas potenciais de rochas que atendam os pressupostos da tecnologia da rochagem para uso de materiais geológicos como remineralizadores de solos para o cultivo da mandioca no Nordeste Paraense.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudo englobou os maiores municípios produtores da mandioca no Nordeste Paraense (NEPA), representados por Acará, São Domingos do Capim, Viseu, Aurora do Pará, Santa Maria do Pará, Moju, Ipixuna do Pará e Bragança (IBGE, 2019) (Figura 1). O mapeamento e identificação das áreas no NP, que possuam a disponibilidade de rochas com potencialidade para o uso da rochagem, foi obtido através shapefiles de geologia e litologia, no site da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais-CPRM (http://geosgb.cprm.gov.br/geosgb/downloads.html) e em seguida foram gerados mapas geológicos através do programa QGIS 2.8.1. Para a classificação dos minerais, em macro e micronutrientes, dispostos nas rochas, foi realizado um levantamento de acordo com literatura existente.

Figura 1- Localização dos maiores municípios produtores de mandioca no Nordeste Paraense (IBGE, 2019).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise litológica dos oito municípios produtores de mandioca no NP, resultou em 20 tipos diferentes de rochas e 8 de minerais, compostos majoritariamente por macronutrientes: potássio, fósforo, cálcio e magnésio; e micronutrientes: ferro e manganês. Nutrientes estes, que segundo Cruz, Pereira e Figueredo (2017), são essenciais para as etapas fisiológicas de crescimento da Manihot esculenta Crantz.

Os municípios de Moju e Viseu, apresentaram maior potencial para a rochagem no NP, com mais de 19 tipos de rocha e 8 minerais. Os macronutrientes de potássio, cálcio e magnésio, foram majoritariamente encontrados no solo através da clorita, muscovita, margas, siltito, arenito, argilito, folhelhos, anfibolito, filito, biotita, granodiorito, gnaisse, granito, metavulcanoclástica, metandesito, tonalito e quartzo-diorito, já os micronutrientes, manganês e ferro, tiveram maior representatividade em grauvaca e granada (Figura 2 e 3). A efetividade do uso do pó da rocha de granodiorito, já foi confirmada em estudos de Gonçalves et al. (2019), que evidenciaram o aumento da produtividade da cultura do morango em Santana do Livramento-RS. Na mandioca, o crescimento de suas raízes, foi evidenciado com o uso de pó de rocha a base de biotita xisto (SOUZA et al., 2016; SOUZA et al., 2013). De acordo com Theodoro (2000) e Theodoro e Leonardos (2011), o uso do pó de granito, apresenta mais vantagens em comparação a adubação química, haja em vista, que este tipo de rocha é menos solúvel ao solo, reduzindo assim, a frequência de adubação ao longo dos anos.

Os municípios de Acará, Aurora do Pará, Santa Maria do Pará, São Domingos do Capim e Bragança, apresentaram a mesma caracterização geomineralógica para a extração do pó de rocha no solo, com fonte de cálcio, magnésio e potássio, através de margas, conglomerados, argilito, arenito, granito e aplito (Figura 2 e 3). O cálcio foi encontrado na extensa faixa de rochas de margas (biocalcirrudito, calciculitos e biohermitos), contribuindo com os estudos realizados por Távora, Souza e Nogueira Neto (2014), em Salinas-PA. É válido ressaltar, que existem novas rotas a serem exploradas em prol do aumento da disponibilidade de calcário no NP, a exemplo de Capanema, Primavera e Quatipuru. O calcário é essencial para a correção da acidez elevada do solo no NEPA, além de diminuir o teor alumínio e absorção de nutrientes (FIALHO; ANDRADE; VIEIRA, 2013).

No município de Ipixuna do Pará há somente rochas comuns, ou seja, que foram encontradas na maioria dos municípios investigados, ricas em cálcio, magnésio e potássio. Concomitantemente, foi observado uma área coberta de minerais clorita e muscovita, com a presença de magnésio e ferro (Figura 2 e 3). Corroborando com Costa et al. (1998), identificaram depósitos de caulim na Amazonia com muscovita.

Sendo assim, os maiores municípios produtores de mandioca no NEPA, apresentaram uma elevada geodiversidade em detrimento da potencialidade de se extrair o pó de rocha e fornecer ao solo e planta os nutrientes necessários para o pleno desenvolvimento da cultura. Essa nova rota tecnológica, irá expandir o plantio mais sustentável do ponto de vista ambiental, bem como sua rentabilidade econômica. Para isso, é importante salientar, que é essencial mais estudos voltados para a petrologia das rochas e seus efeitos no solo/planta.

Figura 2 – Classificação litológica obtida para a primeira camada de shapefile, de acordo com o levantamento geológico feito pela CPRM, dos maiores municípios produtores de mandioca no NEPA

 

Figura 3 – Classificação litológica obtida para a segunda camada de shapefile, de acordo com o levantamento geológico feito pela CPRM, dos maiores municípios produtores de mandioca no NEPA.7

 

CONCLUSÕES

Os municípios investigados, apresentaram diversas áreas com potencial para a produção e o uso de materiais geológicos como remineralizadores de solos. Nesta perspectiva, o uso do pó de rocha, pode tornar-se uma nova prática sustentável no Nordeste Paraense, favorecendo ganhos social e econômico.

 

REFERÊNCIAS

Costa, M. L.; Moraes, E. L. 1998 Mineralogy, geochemistry and genesis of kaolins from the Amazon region. Mineralium Deposita, v. 33, n. 3, p. 283-297.

Cruz, A. C.; Pereira, F. Dos. S.; Figueiredo, V. S. 2017. Fertilizantes organominerais de resíduos do Agronegócio: avaliação do potencial econômico Brasileiro. Chemical Industry, v. 45, n.1, p. 137-187.

FAO. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA. 2013. Produzir mais com menos: Mandioca. Informe de política. Um guia para a intensificação sustentável da produção. 1. ed. São Paulo: FAO, 24 p.

Fialho, J. De. F.; Andrade, R. F. R. De.; Vieira, E. A. 2013. Mandioca no Cerrado: Questões práticas. Brasília: Embrapa, 90 p.

Gonçalves, G. K.; Mendes, F. B.; Guedes, K. S.; Birck, V.; Galarza, R. De. M.; Falcão, F. V.; Lara, R. F.; Oliveira, A. I. de. 2019. Utilização do granodiorito gnáissico como fonte de potássio na produção de Morango. Brazilian Journal of Development, v. 5, n. 10, p. 22073-22087, out, 2019.

Groxko, M. 2020. Mandioca: Análises da Conjutura. Paraná: Deral.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2019. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Rio de Janeiro: IBGE, 95 p.

Modesto, M. S. J.; Alves, R. N. B. 2016. Cultura da Mandioca: Aspectos socioeconômicos, melhoramento genético, sistemas de cultivo, manejo de pragas e doenças e agroindústria. 1. ed. Brasília: Embrapa, 260 p.

Tavora, V. De. A.; Souza, B. L. P. De.; Nogueira, I. De. L. A.N. 2014. Micropaleontologia da Litofáceis Recifal da Formação Pirabas (Mioceno inferior), Estado do Pará, Brasil. Anuário do Instituo de Geociências, v. 370 n.2- p.100-110.

Theodoro, S. M. De. C. H.; Leonardos, O. H. 2011. Rochagem: Uma questão de soberania Nacional. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOQUÍMICA, 13., 2011, Gramado-RS. Anais […]. Gramado, p. 1-4.

Theodoro, S. M. De. C. H. 2000. Fertilização da terra pela terra: uma alternativa de sustentabilidade para o pequeno produtor rural.2000.225f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável)–Universidade de Brasília, Brasília,2000.

 

 

 10.31419/ISSN.2594-942X.v102023i1agromineraisa5LGCF