08 – INCIDENTE E/OU ACIDENTE HYDRO EM BARCARENA: DE ONDE SAIU O CHUMBO?

Ano 05 (2018) - Número 01 Notícias

Marcondes Lima da Costa

 

Todos devem estar acompanhando o acidente/incidente que aconteceu na última semana (iniciado em 17.02.2018) em Barcarena, quando efluentes e/ou resíduos da atividade de beneficiamento mineral transbordaram das bacias de contenção, atribuído às fortes chuvas que caíram naquele dia e talvez falta de controle adequado da própria empresa, bem à procura de culpados pelas mazelas que assolam as cidades e comunidades brasileiras, em especial da Amazônia. Certamente a sombra do gravíssimo acidente de Mariana está a encontrar uma repetição em Barcarena. As desproporções parecem gigantescas, mas o emocional bate mais forte.

A bauxita, seu beneficiamento e processamento até a obtenção de Al2O3 e finalmente os lingotes de alumínio não envolvem qualquer produto que contenha chumbo, exceto o carvão mineral proveniente da Colômbia como fonte energética, cujos teores de chumbo são muito baixo, ao nível da Crosta Superior da Terra, sendo seus resíduos sólidos não depositados nas bacias de lama vermelha. Mas técnicos que avaliaram as “aguas” contaminadas pelos efluentes da Hydro encontraram valores anormais de chumbo. O minério também não contém chumbo em valor superior à média crustal, portanto estaria dentro da normalidade mundial, e se assim o contivesse estaria na estrutura de minerais estáveis, que são encontrados nos solos em geral. Qual seria então a origem do chumbo?

No site: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/laudo-confirma-vazamento-de-rejeitos-de-mineradora-em-barcarena-no-pa.ghtml:

Alto nível de chumbo

De acordo com o laudo do IEC, a análise das amostras também revela um nível alto de chumbo, que, com o consumo contínuo, pode gerar câncer.

“Essa contaminação é nociva às comunidades que utilizam os igarapés e rios em busca de alimento, com a pesca, e também o lazer. Além disso, há a contaminação do meio ambiente como os seres vivos e plantas”, alerta o pesquisador (https://g1.globo.com/pa/para/noticia/laudo-confirma-vazamento-de-rejeitos-de-mineradora-em-barcarena-no-pa.ghtml).

O carvão, como quase todo carvão mineral contém sulfetos de metais, especialmente de Fe, como a pirita, e também pode conter de Cu, Zn e Pb. As análises químicas de carvões procedentes da Colômbia contidas no artigo publicado pelo USGS “World Coal Quality Inventory: Colombia by Susan J. Tewalt, Robert B. Finkelman, Ivette E. Torres, and Fiorella Simoni. 2000. Chapter 5” mostram que os mesmos geram de 3 a 11% de cinzas, contém de 0,33 a 1.13% de S, Cr < 28.2 ppm, Ba (17 a 266 ppm), Pb (1,09 a 11,6 ppm). A média crustal de Pb é de 17 a 18 ppm. Certamente nas cinzas o valor de Pb se multiplicará, mas ao mesmo tempo se diluirá diante da massa de lama vermelha gerada, já que a razão bauxita/carvão é superior 34, o que provocaria ainda mais diluição dos teores de chumbo e outros elementos químicos, entre eles os denominados metais pesados. Além do que os resíduos sólidos da queima do carvão não são depositados na bacia de lama vermelha. Estamos diante de uma grande incógnita para a fonte e/ou presença de chumbo nas águas de Barcarena.

 

“Duto clandestino onde material tóxico era despejado (Foto: Evandro Chagas)” segundo http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-489197-tubulacao-clandestina-da-hydro-despeja-material-toxico-em-rio-de-barcarena.html, acessado em 27.02.2018. Parece abandonado.

 

Fonte: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/laudo-confirma-vazamento-de-rejeitos-de-mineradora-em-barcarena-no-pa.ghtml, acessado em 27.02.2018.