03 – VIAGEM PITORESCA PELO SERTÃO: A CAATINGA

Ano 11 (2024) - Número 1 - Pitoresca pelo Sertão Artigos

10.31419/ISSN.2594-942X.v112024i1a3MBM

 

 

Moacir Buenano Macambira

Programa de Pós-graduação em Geologia e Geoquímica (PPGG) da Universidade Federal do Pará (UFPA); Pesquisador do CNPQ.

 

Embora eu tenha sobrenome de vegetal da Caatinga, tenho pouco conhecimento desse bioma, que é o único exclusivamente brasileiro. Meu pai, original de Santarém, onde a família habita desde, pelo menos, o início do século XIX, era inicialmente classificador de madeira e de cautchu, e foi pai de três geólogos. Coincidentemente, a bromélia, também chamada de macambira-de-lajedo ou macambira-de-pedra, tem características integradoras, pois suas raízes entranham nas fraturas das rochas na luta pela sobrevivência buscando por água e nutrientes. Aproveitei nossa Viagem Pitoresca pelo Sertão (CE, RN e PB) para conhecer algumas espécies vegetais e enriquecer o aprendizado com fotografias e informações básicas extraídas aleatoriamente da internet.

A Caatinga é marcada pela ocorrência do clima Semiárido, quente e seco, e por espécies altamente adaptadas à seca. Cerca de 33% de sua vegetação e 15% de seus animais são espécies exclusivas (endêmicas), que não existem em nenhuma outra parte do mundo, exceto no nordeste do Brasil, daí sua importância fundamental para a biodiversidade do planeta.

Nossa primeira visita no interior do Ceará foi à Fazenda Raposa, no município de Maracanaú. Trata-se de uma Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) mantida pelo Governo do Estado e pela Universidade Federal do Ceará. Na área dominam Caatinga, Mata de Tabuleiro Litorâneo e Mata Ciliar, em torno dos lagos. A fazenda tem uma coleção de Copernicia (carnaúba), trazidas de diversos países. O nome é uma homenagem a Nicolau Copérnico, pela copa em esfera de algumas espécies. A fazenda chegou a ter 17 espécies de carnaúba, mas hoje apenas 13 perduram. Na foto de três espécies de carnaúba (Fig. 1), tem-se, à direita, uma que acumula água em seu tronco. A cera de carnaúba é extraída das folhas e serve de proteção do vegetal ao clima quente e seco. Não existem plantações de carnaúba, mesmo assim, é o segundo produto vegetal do estado, atrás apenas do caju.

Em seguida, adentramos na Caatinga propriamente (Fig. 2) e nela permanecemos até o fim da viagem. A vegetação dominante é rasteira a baixa, com poucas folhas, galhos retorcidos e espinhos. Seu solo é raso, pedregoso, com pouca matéria orgânica e relativamente fértil. De fato, com poucas chuvas, a vegetação rapidamente floresce adquirindo tons de verde. Para quem está acostumado com o verde e volume vegetal das florestas da Amazônia tem um choque com o aspecto seco e cinza da Caatinga. Contudo, é importante lembrar que os organismos estão adaptados àquelas condições. No caso dos vegetais, é muito interessante observar suas estratégias de procurar e acumular água, assim como se defender de predadores com seus espinhos. Na viagem foi possível observar cactos, como o mandacaru (Figs. 3 e 4), facheiro (Fig. 5), xique-xique (Fig. 6), palma (Fig. 7) e coroa-de-frade (Fig. 8), bromélias, como macambira (Fig. 9), e leguminosas. Existem também as frutíferas, como seriguela (Fig. 10) e caju (Fig. 11).

A Caatinga é um ambiente altamente susceptível à desertificação, processo caracterizado pela perda progressiva da cobertura vegetal, causada por ações antrópicas, associadas a intervenções naturais. Desmatamento, extrativismo, agricultura, pecuária, mineração e construção de barragens estão entre as principais atividades que causam danos à Caatinga. Segundo dados do MMA, já foi desmatada cerca de 46% da sua área total. “Os maiores aumentos proporcionais de 2020 para 2021 de desmatamento ocorreram na Caatinga (88,9%) e no Pampa (92%). No caso da Caatinga, o aumento é causado em parte pelo aprimoramento da detecção dos alertas”.

Figura 1 – Carnaúba (Copernicia), três variedades.

 

Figura 2 – Caatinga.

 

Figura 3 – Mandacaru (Cereus).

 

Figura 4 – Mandacaru (Cereus).

 

Figura 5 – Facheiro (Pilosocereus).

 

Figura 6 – Xique-xique (Pilosocereus polygonus).

 

Figura 7 – Palma (Opuntia ficus-indica).

 

Figura 8 – Coroa-de-frade (Melocactus zehntneri).

 

Figura 9 – Macambira (Bromelia laciniosa).

 

Figura 10 – Ciriguela (Spondias).

 

Figura 11 – Cajueiro (Anacardium) com frutos.