Ano 06 (2019) – Número 03 Artigos
10.31419/ISSN.2594-942X.v62019i3a3AAEN
Anna Andressa Evangelista Nogueira*, Juan Sebastian Gomez Neita*, Marcela Costa Pompeu*, Allan Matos de Lima*
*Grupo de Análise de Bacias sedimentares da Amazônia (GSED). Pós-graduação em Geologia e Geoquímica. Universidade Federal do Pará. E-mails: aenogueira@ufpa.br, juan.neita@ig.ufpa.br, marcela_pompeu@hotmail.com, allan.lima@ig.ufpa.br
This work shows the feasibility of wet and dry sieving technique of recent and older samples for the calcareous microfossil recovery. As an example, recent samples collected at the Amazon River mouth and samples from the Pirabas Formation (Oligomiocene) were evaluated. Both areas obtained good results with two types of methodologies. Wet sieving is more effective on older samples because of the great amount of material available and the harder to disaggregate. In case of recent samples, dry sieving is necessary due to the less amount of sediment available in each sample and its friable nature.
Keywords: sieving, recovery, calcareous microfossils, Amazon River mouth, Pirabas Formation.
Vários métodos são utilizados para a desagregação de rochas e recuperação de microfósseis calcários. A composição da rocha, o grau de litificação, a existência de poros e matéria orgânica são características que controlam a fragmentação da rocha e a liberação de microfósseis calcários. Estes são recuperados de rochas sedimentares clásticas finas com o uso de peróxido de hidrogênio (H2O2) (Grekoff 1956, Sohn 1961), especialmente eficaz em rochas contendo matéria orgânica (Rodrigues et al. 2011).
Um dos procedimentos envolve o peneiramento a fim de separar o material em duas ou mais frações, com partículas de tamanhos distintos. Existe o peneiramento a úmido aplicado, habitualmente, para eliminação de argilas e silte e evitar materiais não desejáveis (Carrisso & Correa 2004). E também o peneiramento a seco aplicado em amostras com pouco material bruto a ser analisado com o objetivo de separação e perda mínima do mesmo. Esta etapa é fundamental para posterior triagem dos microfósseis, onde normalmente se acumulam entre frações de 63µm a 500µm (Wanderley 2010), separando-os pelo tamanho e contribuindo nos estudos sobre crescimento e estrutura populacional.
O presente trabalho, portanto, objetiva avaliar a melhor técnica ou metodologia aplicada para a preparação dos diferentes tipos de amostras abordadas aqui, por meio também dos tipos de peneiramento seco e úmido; além de avaliar a melhor técnica na eficácia de recuperação dos microfósseis calcários. Isso contribuirá na forma mais eficaz de recuperar a quantidade necessária de material final sem que haja muitas perdas e determinará a melhor forma de recuperar estes tipos de microfósseis repercutindo em uma melhor ilustração e identificação taxonômica.
Cinquenta e sete amostras utilizadas para esta análise foram coletadas em um testemunho de sondagem (FPR-160) no município de Primavera; e nos afloramentos situados em Atalaia, São João de Pirabas (Ilha de Fortaleza), Aricuru e Mina B-17, todas elas provenientes da Formação Pirabas (Oligomioceno), Nordeste do Estado do Pará, Brasil (Fig. 1). Além destas, 4 outras amostras foram coletadas em material recente da Foz do Rio Amazonas próximo à linha de costa desde a plataforma rasa até o talude há aproximadamente ~100km de distância em relação a costa (Fig. 1). A preparação destas amostras seguiu mais de uma metodologia proposta por Mesquita (1995); Rodrigues et al. (2011) e Wanderley (2010) para microfósseis calcários (Tabs.1 e 2).
Nos afloramentos e testemunhos da Formação Pirabas foram usadas no total de três técnicas de preparação das amostras para recuperação dos microfósseis calcários (Tab.1). As localidades que mais apresentaram êxito quanto ao número de espécimes recuperadas foram na mina – B17, Aricuru e nos testemunhos de sondagens, ao contrário das localidades nas quais utilizaram-se de ácido acético à 10%, bem como Atalaia e Ilha de Fortaleza (Tab.1). Em todas estas amostragens foram realizados peneiramento a úmido (Fig. 2B).
Tabela 1. Análise quantitativa de alguns microfósseis em amostras férteis de 5 localidades da Formação Pirabas em peneira 250µm.
Microfósseis | Localidade | Metodologia | Amostras férteis | N° de espécimes |
Ostracodes | Mina B17 | Wanderley (2010) | 19 | 8548 |
Ilha de Fortaleza | Wanderley (2010)
Rodrigues et al. (2011) |
5 | 274 | |
Aricuru | Wanderley (2010) | 6 | 9360 | |
Atalaia | Wanderley (2010)
Rodrigues et al. (2011) |
2 | 204 | |
Testemunho | Wanderley (2010)
Mesquita (1995) |
16 | 1799 | |
Foraminíferos planctônicos | Mina B17 | Wanderley (2010) | 17 | ~7.000 |
Testemunho | Wanderley (2010)
Mesquita (1995) |
10 | 1055 |
Em relação as amostras de sedimentos mais recentes da Foz do Rio Amazonas, foi aplicado apenas uma técnica de preparação e recuperação dos microfósseis calcários. No caso das análises bem-sucedidas na recuperação dos microfósseis foram observadas em amostras de silte e areia. Enquanto as amostras de argila foram menos abundantes (Tab. 2). Os dois tipos de peneiramento foram aplicados e necessários no tratamento dessas amostras.
Tabela 2. Análise quantitativa de alguns microfósseis calcários em quatro amostras recentes de dragagem da Foz do Rio Amazonas em peneira 250µm: PRA-11 e A09 (Areia fina a média), PRA-06 (Argila a Silte) e A01 (Areia média).
Microfósseis | Metodologia | Amostras férteis | N° de espécimes |
Ostracodes |
Mesquita (1995)
|
PRA-11 | 53 |
PRA-06 | 9 | ||
A01 | 6 | ||
A09 | 13 | ||
Foraminíferos Planctônicos | PRA-11 | 1940 | |
PRA-06 | 207 | ||
A01 | 25 | ||
A09 | 182 | ||
Foraminíferos Bentônicos | PRA-11 | 5475 | |
PRA-06 | 125 | ||
A01 | 646 | ||
A09 | 310 |
O uso das três metodologias permitiu verificar a mais adequada para cada tipo de amostra. Nos testemunhos, por exemplo, a limpeza dos exemplares de microfósseis calcários foi melhor observada com o uso da metodologia de Mesquita (1995) do que a de Wanderley (2010).
Quanto a recuperação de microfósseis, ambas metodologias citadas acima foram bem-sucedidas nos testemunhos e na Mina B-17, onde foraminíferos planctônicos foram um pouco menos abundantes em relação aos ostracodes (Nogueira & Nogueira 2017, Nogueira et al. 2018, Nogueira et al. 2019). Ao contrário das amostras de Atalaia e Ilha de Fortaleza, nas quais utilizaram-se ácido acético (10%) aplicado na metodologia de Rodrigues et al. (2011; Tab.1). Peneiramento úmido foi aplicado nessas amostras devido à natureza consolidada das rochas, sendo necessário o meio aquoso para desagregá-las (Fig. 2A-O).
Amostras de sedimentos friáveis ou amostras mais recentes, obtiveram melhores resultados na recuperação de microfósseis em relação aquelas amostras de rochas consolidadas aplicando-se apenas um tipo de metodologia (Tab.2). A amostra PRA-04, por exemplo, foi necessário peneirar a úmido devido essas apresentarem um alto grau de plasticidade da argila (Fig. 2R-S), essa amostra foi estéril quanto a presença de microfósseis e apresentou um produto final de 1,7g de sedimento (fração 250 µm) após peneiramento, diferente da amostra arenosa PRA-11 (90g de sedimento da fração 250 µm). Nestas amostras mais arenosas, o peneiramento a seco foi realizado obtendo um maior número de produto final e no número de espécimes (Tab.2).
Duas das metodologias aplicadas para a recuperação e preparação de amostras revelaram maior eficácia dos resultados obtidos. Isso foi observado, por exemplo, em amostras de testemunhos. Porém, o uso da terceira metodologia em amostras na qual usou-se ácido acético apresentaram pouca recuperação quanto aos ostracodes e desgaste nas paredes dos microfósseis, entretanto, esse fato pode estar mais relacionado a fatores tafonômicos do que da própria ação corrosiva do ácido (Fig.2E-F). Embora as amostras da Formação Pirabas foram as mais difíceis de desagregar, o material final e a recuperação dos microfósseis após peneiramento úmido foi melhor em granulometrias mais finas. Portanto, nas amostras da Foz do Rio Amazonas, isso foi mais eficaz em amostras mais arenosas e a peneiramento seco do que a úmido.
Agradecemos à empresa Votorantim S.A. por ceder os testemunhos; ao Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e à coordenação de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior (CAPES) pela concessão das bolsas, respectivamente, durante o doutorado e pelo Programa Nacional de Pós-doutorado (PNPD); Ao Prof. Dr. Nils Asp Neto por ceder as amostras da Foz do Rio Amazonas para análise; e à Universidade Federal do Pará (UFPA) pela infraestrutura.
Carrisso R.C.C. & Correa J.C.G. 2004. Classificação e Peneiramento. Centro de Tecnologia Mineral Ministério da Ciência e Tecnologia – CETEM. Tratramento de Minérios, cap. 5, 4a Edição, 197-238p.
Grekoff N. 1956. Guide pratique pour la détermination des ostracodes post-paléozoïques. Institut Français du Pétrole 95, 16–17.
Mesquita A.C.F. 1995. Microbioestratigrafia do Terciário da Bacia de Santos, com base em Foraminíferos Planctônicos. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-graduação em Geociências, Universidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 167 p.
Nogueira A.A.E & Nogueira A.C.R. 2017. Ostracods biostratigraphy of the Oligocene-Miocene carbonate platform in the Northeastern Amazonia coast and its correlation with the Caribbean region. Journal of South American Earth Sciences, 80: 389-403.
Nogueira A.A.E., Neita J.S.G., Nogueira A.C.R. 2018. Foraminíferos Planctônicos do Oligo-Mioceno da Formação Pirabas (Município de Primavera, Pará). Boletim do Museu de Geociências da Amazônia– BOMGEAM. Nº 3, 1-9pp. DOI: 10.31419/ISSN.2594-942X.v52018i3a8AAVN
Nogueira A.A.E., Ramos M.I.F., Hunt G. 2019. Taxonomy of Ostracods from the Pirabas Formation (Upper Oligocene to Lower Miocene), Eastern Amazonia (Pará State, Brazil). Zootaxa 4573(1): 1-111p. DOI: 10.11646/zootaxa.4573.1.1
Rodrigues G.B., Bom M.H.H. & Fauth G. 2011. Recovery of ostracods in Cretaceous dolomitic carbonate: The efficiency of acetolysis. Marine Micropaleontology, 92–93, 81–86.
Sohn, I.G. 1961. Techniques for Preparation and Study of Fossil Ostracods. Q64-Q70. In: MOORE, Raymond C. (Ed.), Treatise of Invertebrate Paleontology. Part Q.: Arthropoda 3, Crustacea, Ostracoda. Geological Society of America and University of Kansas Press, Lawrence (422 pp.).
Wanderley M. 2010. Técnicas de Preparação de Microfósseis. In: Carvalho, I. S. (Ed.). Paleontologia: Microfósseis, paleoinvertebrados. Interciência p. 65 – 80.