13 – O AREIAL DE IGARAPÉ AÇU, NORDESTE DO PARÁ

Ano 03 (2016) - Número 04 Artigos

Marcondes Lima da Costa, Professor do Instituto de Geociências da UFPA, Pesquisador do CNPQ e Membro da Academia Brasileira de Ciências.

 

Durante uma das excursões de campo de um dia da disciplina Mineralogia Ambiental ministrada por mim, ocorrida no dia 10.12.2016 com destino ao Campus da UFRA (coordenadas da Casa do Mel: 1º; 7`; 31,12“ e 47º; 36`; 30,88“) em Igarapé-Açu, nordeste do estado do Pará, após a visita ao Campus com exposições de argissolos amarelos, procurei exposições de espodossolos no caminho, pois são muito comuns nesta região costeira do Pará. O primeiro com o qual nos deparamos foi um campo de extração de areia (Coordenadas na margem da rodovia próxima a cava: 1º; 10; 4,9´´ e 47º;27´; 20,3), mas já abandonado, às proximidades do rio Livramento junto a vila de Timboteua, logo que deixamos a ponte de ferro da antiga ferrovia Belém-Bragança, nos dirigindo para rodovia Salinópolis-BR-316e então retorno para Belém. Como a exposição estava em parte invadida pelo mato, continuamos a viagem na referida rodovia e então eis que nos surge uma bela e grande exposição de areias espodossólicas, vulgo areal, na margem leste desta rodovia (1º; 12´; 5,5´´ e 47º; 24´; 1,5´´). Foi uma bela surpresa, e ao mesmo tempo uma preocupação. Será nos permitiriam entrar na cava, isto é quase impossível, os proprietários tem pavor de receber visitantes desconhecidos. Bela surpresa, fomos bem recebidos e logo adentramos a cava. Fantásticas exposições se deparavam frente aos nossos olhos, parecia um mundo surreal. Espesso pacote de areia branca com relictos de latossolos amarelos ou mesmo argissolos amarelos, por correlação àqueles do Campus da UFRA em Igarapé-Açu, que são argissolos segundo o nos informou o Agrônomo e Professor da UFRA, Anderson Braz. A imagem nos vinha a cabeça era de um deserto de areias brancas circundadas pela mata verde da capoeira e plantações. Além de brancas, os grãos de areia de quartzo variam de fina a grossa, por vezes alcançam o tamanho de seixos, em geral quebradiços, friáveis, como é comum neste tipo de solo. O areia ocupa a encosta de uma ligeira elevação, em torno de 60 m de altitude. É possível observar o contato dos espodossolos com os argissolos tanto lateral como verticalmente, desde os seus primeiros estágios até a grande profundidade, atingindo mais de 10 m por estimativa. Hardpans ou algo similar se observam tanto em contornos exóticos em formações concêntricas ou verticais, também sub-horizontais contornados por restos de argissolos. São numerosas as perfurações de raízes de natureza pivotante, em cujas bordas se instalaram materiais marrons escuros de oxihidóxidos de Fe e matéria orgânica, o mesmo que compõe os hardpans em geral. Constatou-se a presença de fragmentos centimétricos de caulim flint, que localmente apresentam morfologia de nódulos. No fundo da cava, se observou exposições de argilito verde claro, estratificado, que segundo o pessoal da cava corresponde a Formação Pirabas observada em Capanema. Testes com HCl não confirmaram a efervescência típica de rochas carbonáticas calcíticas, como é comum no Pirabas. Análises por DRX (D 2 Phaser, Bruker; LAMIGA) permitiram identificar domínio de quartzo, caulinita e halloysita. Na base da cava também se observou harpans contorcidos com 20 a 30 cm de espessura. A figura abaixo (Figura 1) mostra alguns aspectos mencionados anteriormente sobre esses espodossolos. A lavra poderia ser uma excelente oportunidade para conhecer de forma mais detalhada esses solos, que já foram classificados como campos de dunas fósseis.

 

Figura 1 – Acima à esquerda e à direita uma ideia geral sobre a lavra de espodossolos (areias) no areal visitado. Abaixo à esquerda detalhe da zona de contato areia branca e argissolo, vendo-se o desenvolvimento do “hardpan”; à direita a passagem lateral e vertical do espodossolo para o argissolo. Todas as imagens foram capturadas por Marcondes Lima da Costa.