09 – NEM TUDO É OURO NO DOURAMENTO SOBRE MADEIRA DAS EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS DE BELÉM

Ano 03 (2016) - Número 04 Artigos

Amanda de Nazaré da Costa Souza – LACORE/PPGAU/ITEC/UFPA

Thais A. Bastos Caminha Sanjad – LACORE/PPGAU/ITEC/UFPA

 

A arte do douramento é conhecida desde os antigos egípcios. A folha de ouro era empregada para adornar os sarcófagos, as máscaras das múmias e outros objetos funerários do Egito Antigo. (HURTADO, 2002) Durante o período Bizantino, a técnica do douramento foi largamente utilizada em retábulos. Foi durante os séculos XVII e XVIII que a arte da talha dourada alcançou o seu apogeu na Europa, propiciada pelo ouro e prata vindos do Brasil e outros países das Américas. Os missionários jesuítas no século XVII introduziram as primeiras manifestações do barroco em Belém, com destaque para as fachadas, frontões e o uso de talhas douradas nas Igrejas. As igrejas de  Santo Alexandre (a), Igreja de Nossa Senhora do Carmo (b), Capela da Ordem Terceira (c) e Basílica de Nossa Senhora de Nazaré (d) (Figura 1), esta última do século XX, são alguns dos exemplos de arquitetura com presença de douramento sobre madeiras   em retábulos, altares, molduras, forros, entre outros. (DERENJI, 2009). É possível também encontrar douramento em algumas edificações de Belém de outras épocas, como no Teatro da Paz (século XIX) e Palacete Bolonha do início do (século XX).

 

Figura 1: a) Retábulo da Sacristia da Igreja de Santo Alexandre, século XVIII.

 

Figura 1: b) Retábulo Altar Mor da Igreja do Carmo, século XVIII.

 

Figura 1: c) Detalhe do Retábulo Altar Mor da Capela da Ordem Terceira, século XVIII.

 

Figura 1: d) Forro da Basílica de Nazaré, início do século XX.

 

O douramento consiste no revestimento de superfícies com finas folhas de ouro, que se fazem aderir ao suporte de madeira através de diversos processos. Porém, dourar não se limita à simples fixação de uma folha de ouro sobre uma peça. A preparação é demorada e cautelosa. O douramento pode ser feito sobre várias superfícies como estuque, pedra, metal e madeira. (LOURENÇO, et al., 2003)

 

Durante as pesquisas realizadas com MEV/EDS (Microscópio Eletrônico de Varredura e Sistema de Energia Dispersiva) no LABMEV, no Instituto Geociências-IG/UFPA, foram coletadas amostras estratégicas do douramento de algumas edificações de Belém, obtendo resultados não muito satisfatórios com relação à identificação dos minerais da composição dos materiais utilizados no processo de douramento. Esperava-se uma grande porcentagem do mineral de ouro (Au) nas amostras. Porém, o resultado mostrou outros tipos de ligas metálicas (Figura 2). O cobre (Cu) foi o que mais se destacou junto com a prata nativa (Ag). Foram identificados também douramentos com a presença de óxidos de titânio (Ti), de hidróxidos de ferro (Fe) e óxidos de chumbo (Pb). O Au foi identificado em todas as amostras, variando a intensidade das reflexões do EDS entre 20% e 30%.

 

Figura 2: a) Imagem eletrosecundário MEV – de amostra da camada dourada no revestimento em madeira sala de jantar Palacete Bolonha, início Séc. XX.

 

Figura 2: b) Espectro de Energia Dispersiva da amostra (a).

 

Figura 2: c) Imagem MEV eletro secundário – de amostra da camada dourada Retábulo Altar Mor da Capela da Ordem Terceira, Século XVIII.

 

Figura 2: d) Espectro de Energia Dispersiva da amostra (c).

 

Em Belém são raros exemplos de edificações históricas que ainda possuem preservadas a talha e o douramento sobre madeira. Os remanescentes apresentam claras evidências de perda de material com o tempo em função da inadequada ou mesmo ausente ações de conservação. Deste modo, é notório perceber que os resultados preliminares podem ter relação com as intervenções e restaurações que as talhas dessas edificações sofreram, pois, em função do alto custo das folhas de ouro e das decisões sobre como intervir, podem ter utilizado vários outros materiais disponíveis no mercado em substituição das mesmas.

 

REFERÊNCIAS

DERENJI, Jorge; DERENJI, Jussara. Igrejas, Palácios e Palacetes de Belém. Brasília, Iphan/Programa Monumenta, 2009.

HURTADO, Sofia Martínez. El Dorado. Técnicas, procedimentos y materiales. Arts Longa 11 (2002). p.137-142

LOURENÇO, Bettina Collaro G. de. Douramento. In: BRAGA, Márcia. Conservação e restauro: madeira, pintura sobre madeira, douramento, estuque, cerâmica, azulejo, mosaico. Rio de Janeiro: Rio, 2003.