Ano 03 (2016) - Número 02 Artigos
Pabllo Henrique Costa dos Santos, Museu de Geociências e PPGG/IG/UFPA; Marcondes Lima da Costa, curador do Museu de Geociências e professor do IG/UFPA.
A produção de suco a partir do fruto do açaizeiro (Euterpe oleraceae Martius) é uma das atividades mais importantes para o estado do Pará. Somente em Belém foram registrados cerca de 3 mil estabelecimentos que comercializam o açaí já processado (IBGE 2007) e gerando aproximadamente 365 toneladas por dia de resíduo representado principalmente pelos caroços, frutos despolpados. Esse resíduo ainda até hoje é em grande parte eliminado como lixo urbano. Nos últimos vários trabalhos foram desenvolvidos (Farinas et al. 2009, Silva & Tavares 2013, Barreira 2009) visando o seu aproveitamento econômico, principalmente como fonte de energia, e eliminando o seu desperdício. O presente trabalho investigou a natureza micromorfológica desses caroços despolpados, visando auxiliar as pesquisas sobre novas aplicações.
Foram analisados a semente (endocarpo) e as fibras (localizadas no mesocarpo) do açaí, concedida pelo estabelecimento comercial “Açaí do Junior” em Ananindeua- PA. As técnicas analíticas empregadas neste estudo foram a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) (Hitachi TM 3000), complementada por Espectroscopia de Energia Dispersiva (EDS) (X-Tream Wifted 3000); Espectroscopia no Infravermelho (FTIV) (Bruker VERTEX 70); e Difratometria de Raios X (Bruker D2 PHASER). Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Mineralogia, Geoquímica e Aplicações (IG- UFPA).
O açaí possui uma única semente (endocarpo), que ocupa 85% de seu volume. Esta é revestida pela polpa (mesocarpo), na qual ocorrem fibras filamentosas, e pela casca (epicarpo), ambos comestíveis. As imagens de MEV do endocarpo mostram um mosaico poligonal concêntrico (figura 1A) e as fibras do mesocarpo exibem um conjunto de filamentos tubulares justapostos, seccionados por paredes internas (figura 1B).
Os dados de EDS confirmam que, como era de se esperar a porção externa do endocarpo e as fibras do mesocarpo são compostas essencialmente por carbono e oxigênio são os constituintes principais, ratificados pela presença dos grupos funcionais da celulose [(C6H10O5)n] e sacarose [(C12H22O11)] no espectro de infravermelho (Figura 2). Estão presentes silício, enxofre, potássio e cálcio, em pequenas concentrações.
Os caroços de açaí são amorfos a DRX. Apenas foi identificada a reflexão a 5,42 Å (16°2θ), podendo ser (Figura 3).
Os impactos ambientais causados pelo descarte do resíduo do açaí podem ser minimizados através de ações públicas e/ou privadas que visem incentivar a reutilização desses resíduos. Diversos trabalhos têm demonstrado o potencial do açaí na produção de energia, compostagem e artesanato. Os dados apresentados demonstram que a composição essencialmente à base de celulose permitiria em princípio a obtenção de seus derivados, como carboxi-metilcelulose, acetato de celulose e metil celulose, que são aplicados na indústria de diversas maneiras, dependendo da incorparação de grupos químicos em substituição ao grupo hidroxila.
Barreira, R. M. Caracterização Físico-Quimica do Endocarpo do Açaí (Euterpe Oleracea Mart.) Para Aplicação em Síntese e Poliuretana. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica. Universidade Federal do Pará.
Farinas, C. S.; Santos, RRM.; Neto, VB; Pessoa, JDC. Aproveitamento do Caroço do Açaí como Substrato para a Produção de Enzimas por Fermentação em Estado Sólido. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento. São Carlos, SP 2009.
IBGE. Produção da extração vegetal e da silvicultura: Belém – PA, Brasil, 2007. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/servidor_arquivos_est/default.php?caminho=./pub/Prod ucao_Agricola/Producao_da_Extracao_Vegetal_e_da_Silvicultura_[anual]/2007>. Acesso em: 05 ago. 2009.
Teixeira, LB; Germano VL; oliveira RF; Furlan Junior, J. Processos de compostagem usando os resíduos das agroindústrias do açaí e de palmito do açaizeiro. Embrapa. Disponível em: < E http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/395733/1/Circ.tec.41.pdf>. Acesso em: 23 out. 2015.