07 – Ilhas e fortes da Baía do Guajará: a Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra de Belém do Pará, Brasil

Ano 03 (2016) - Número 04 Artigos

Roseane da Conceição Costa Norat, Marcondes Lima da Costa.

 

A primeira parte deste tema foi publicada no Boletim BOMGEAM Nº3 (2016), quando foi analisada a rede de defesa em terra e na baía que protegia a cidade de Belém e, por extensão, a entrada para o Rio Amazonas, a partir do “Mapa da Barra do Pará” de 1793. Considerando o desaparecimento dessas estruturas fortificadas, dar-se-á continuidade ao tema, desta feita analisando o “Mapa das defenças da Barra e Cidade do Gram-Pará” de c.1724 e ampliando a investigação sobre a Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra (1685) que se localizava em “ilhota de pedra” na Baia do Guajará (Viana, 1905; Barreto, 2010; Meira Filho, 2015; Norat & Costa, 2016).

O termo “barra” está associado à formação geológica que pode ocorrer nas desembocaduras de rios, canais, estreitos, estuários e outros cursos de água, devido à acumulação de material de aluvião, paralelo à costa, na linha onde a corrente do curso de água e a do corpo onde este desemboca se equilibram. É comum haver uma linha de rebentação nesse ponto, devido à diminuição da profundidade, podendo formar ilhas, penínsulas, istmos[i].

 

Fig. 1. (a) Mapa das defesas da Barra e cidade do Grão Pará (ca. 1724) onde se observam a cidade e suas estruturas religiosas e militares, além das ilhas da baía do Guajará; (b) Ilha Redonda “que se vai desfazendo”; (c) Ilha do Fortim; (d) Ilhota da Fortaleza da Barra. (Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa/AHUL).

 

Na análise do mapa, observa-se na sua parte inferior (Fig. 1a, indicado pelo retângulo vermelho pontilhado), o núcleo originário da cidade (atual bairro da Cidade Velha e orla da Campina) com seus monumentos religiosos e militares. Na área fluvial, a baía do Guajará é representada com suas várias ilhas dispersas, dentre elas a ilha das Onças; a ilha que abrigava um Fortim (Fig. 1c) e cuja planta está em destaque na parte inferior e à direita do mapa; a ilhota da “Fortaleza da Barra” (Fig. 1d) e na extremidade superior, a “Ilha Redonda” (Fig. 1a), a qual é complementada com a anotação “de que se vai desfazendo”. Tal descrição reforça a transitoriedade de algumas ilhas formadas por sedimentos recentes e migratórios na barra do Pará, na desembocadura do Rio Amazonas e seus afluentes, próximos ao oceano Atlântico, como a Ilha dos Periquitos e outras descritas na resenha anterior (BOMGEAM Nº 3).

Normalmente, as estruturas fortificadas eram construídas com rochas provenientes da região, tais como os arenitos ferruginizados ou blocos de crostas lateríticas, mas também podiam ser utilizadas rochas trasladadas de outras procedências, muitas introduzidas como lastro das embarcações que aportavam por estas cercanias.

Nos desenhos da planta (Fig. 2a) e da seção e perspectiva (Fig. 2 b) da Fortaleza da Barra (Fig. 2c) notam-se detalhes sobre suas técnicas construtivas e seus compartimentos. A legenda da secção do forte, por exemplo, aponta o regime de marés (Fig. 2b,d: retângulos pontilhados em vermelho e descrição das legendas O e P). Nos detalhes da secção, observam-se a base e o enrocamento em rochas aparelhadas que indicam que a “ilhota de pedra”, como descrita historicamente, possivelmente foi construída sobre sedimentos migratórios das ilhas formadas na barra do Pará, porém foi reforçada, para suportar a estrutura da muralha, terrapleno e ambientes da praça interna (Fig. 2d,e).

Para infortúnio da cidade, a Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra de Belém ou simplesmente Fortaleza da Barra desapareceu após explosão ocorrida em 1947, mas sua história pode ser recontada e, portanto, reconhecida pelos seus cidadãos.

 

Fig. 2. (a) Planta da Fortaleza da barra do Pará e (b) Perfil e perspectiva elaborados por Joseph Coelho de Azevedo. (c) A Fortaleza de Nossa Senhora das Mercês da Barra de Belém, por volta de c. 1910. (d) detalhe da secção do forte, observando as técnicas construtivas e base em rochas aparelhadas; (e) detalhe da portada de acesso ao forte e enrocamento da base (Fonte: (a,b,d,e) AHUL, (c) Instituto Moreira Salles, Coleção Gilberto Ferrez, disponível em http://fortalezas.org/index.php).

 

REFERÊNCIAS

Barreto, Annibal. (2010). Fortificações do Brasil. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 2ª Edição, 208 p.

Glossário Geológico Ilustrado, disponível em  http://sigep.cprm.gov.br/glossario/, acessso em 16 de dezembro de 2016.

Meira Filho, Augusto. (2015). Evolução Histórica de Belém do Grão-Pará: Fundação e História 1616-1823. Organização Márcio Meira. 2ª Ed. Belém: M2P Arquitetura e Engenharia. 580 p.

Norat, Roseane da Conceição Costa; Costa, Marcondes Lima da. (2016). A linha de defesa do rio-mar: perdas e transformações da engenharia militar em Belém/PA (Brasil). In: Congresso Ibero-Americano Patrimônio, suas matérias e imatérias. Lisboa, Portugal.

Vianna, Arthur. (1905). As Fortificações da Amazônia. In Annaes da Bibliotheca Archivo Publico do Pará, Brazil. Typ. e Encadernação do Instituto Lauro Sodré, Tomo Quatro. Pará. p. 227-293.

 

 

[i] https://pt.wikipedia.org/wiki/Barra#cite_note-1