09 – Ilha de Fortaleza: cultura e religiosidade sobre os calcários da Formação Pirabas

Ano 04 (2017) - Número 03 Artigos

 10.31419/ISSN.2594-942X.v42017i3a9PHS

 

 

1Pabllo Henrique dos Santos, 1Wladimir de Araújo Távora, 1Rômulo Amaral, 1Thiago Carvalho

1Universidade Federal do Pará – Programa de Educação Tutorial em Geologia

 

A Ilha de Fortaleza tem importância científica singular, pois registra grande conteúdo fossilíferos, representado pelos invertebrados da Formação Pirabas (Rossetti & Góes 2004). Porém, os afloramentos já conhecidos também estão fortemente ligados às lendas e ao sincretismo religioso da região. Anualmente, centenas de devotos e veranistas visitam a ilha para participar das festividades do Rei Sabá e de São Sebastião.

A Ilha de Fortaleza se localiza em São João de Pirabas, município litorâneo do nordeste do Estado do Pará. O acesso a partir de Belém se dá pela BR-316 (Belém-Capanema), PA-124 (Capanema-Salinópolis) e PA-440 (Salinópolis-São João de Pirabas). A partir da sede do município, segue-se de barco pela Baía de Pirabas, para chegar à ilha, um percurso de quarenta minutos. Este trajeto foi realizado pelos estudantes do grupo PET-geologia, sob orientação do Prof. Dr. Wladimir de Araújo Távora, como parte da pesquisa voltada para a geodiversidade do Estado do Pará, a qual já resultou em duas publicações em eventos científicos: Afonso et al. (2013); Amaral et al. (2014).

Durante os trabalhos de campo, ficou registrado que as exposições rochosas presentes na ilha, em especial a famosa “Pedra do Rei Sabá”, cuja forma se assemelha a um homem sentado, tem importância não apenas geológica, mas também cultural. Há setenta e cinco anos, umbandistas se reúnem na Ilha de Fortaleza, para a tradicional celebração sacro-profana do Rei Sabá, realizada no dia de São Sebastião (20 de janeiro).

A pedra mística do Rei Sabá (Figura 1) faz parte do sincretismo religioso local. De acordo com que é contado pelos mais antigos (e existem muitas versões), Rei Sabá chegou em um navio negreiro que naufragou em uma praia da região (atual praia do Rei Sabá). Ele sobreviveu ao naufrágio, entretanto, jamais abandonou o local. Sentou-se de costas para o mar e foi “petrificado”. Esta rocha de cor escura, esculpida pela erosão costeira, de fato existe na ilha e constantemente recebe oferendas dos que acreditam em seus milagres. Para dar destaque ao monumento natural, foi-lhe acrescentado um pedestal de concreto, construído sobre os calcários da Formação Pirabas.

 

Figura 1. “Pedra do Rei Sabá” sobre calcários da Formação Pirabas.

 

A Prefeitura do município construiu, também sobre os calcários Pirabas, monumentos em homenagem à outras entidades religiosas que fazem parte da Umbanda e Candomblé (Figura 2), como Cabocla Mariana (filha do rei Sabá), Iemanjá, Jarina e Zé Raimundo. As mesmas também são reverenciadas por pais e filhos de santo de diversas regiões do Pará e do mundo. Além dos umbandistas, os católicos, que rezam por São Sebastião, mártir da igreja católica, também cumprem suas promessas no local. Isto porque o mar carrega grande simbolismo, por ser o mar a principal fonte de renda do município.

 

Figura 2. Monumentos construídos em homenagem a entidades da Umbanda, assentados sobre os calcários da Formação Pirabas: Cabocla Mariana (A) e Iemanjá (B).

 

REFERÊNCIAS

Afonso, J. W. L.; Nina, A. S.; Vieira, D. S. C.; Santos, P. H. C. ; Branco, R. A. C. O.; Carvalho, T. A.; Lopes, E. C. S. Potencial Geoturístico da Ilha de Fortaleza. In: 13° Simpósio de Geologia da Amazônia, 2013, Belém-PA. Anais do 13º Simpósio de Geologia da Amazônia, 2013.

Amaral, R. P.; Santos, P. H. C. ; Carvalho, T. A. Geodiversidade da Ilha de Fortaleza (São João de Pirabas-PA). In: 47º Congresso Brasileiro de Geologia, 2014, Salvador-BA. Anais do 47º Congresso Brasileiro de Geologia, 2014.

Rossetti, D. F.; A. M. Góes. 2004. Geologia. O Neógeno da Amazônia Oriental, p. 13-52. Museu Paraense Emílio Goeldi (Coleção Friederich Katzer), Belém.

 

 

 10.31419/ISSN.2594-942X.v42017i3a9PHS