Ano 04 (2017) - Número 02 Artigos
10.31419/ISSN.2594-942X.v42017i2a2JFB
José Francisco Berrêdo, Museu Paraense Emílio Goeldi; Marcondes Lima Costa, Instituto de Geociências, UFPa.; Maria do Perpétuo Socorro Progene Vilhena, Universidade Federal Rural da Amazônia; Christiene Lucas Rafaela, Universidade Federal do Pará.
As precipitações pluviométricas condicionam, no Pará, uma sazonalidade marcante, a qual influencia na evolução da vegetação, nas características dos espaços palustres, alimentação das bacias vertentes e os efeitos das transições água doce-água salgada (Baltzer, 1982). Esse setor costeiro é formado por vales parcialmente submersos durante o Holoceno, onde se desenvolveram, por exemplo, os manguezais do estuário do rio Marapanim (Figura 1). Podem-se distinguir claramente duas estações neste setor da costa: a mais chuvosa, que ocorre entre janeiro a junho e outra, menos chuvosa, entre julho a dezembro.
Como um reflexo da variação sazonal do clima, a salinidade das águas superficiais aumenta, segundo um gradiente longitudinal negativo, estabelecido em direção ao interior do estuário (Figura 1, esquerda). O período de baixa precipitação pluvial caracteriza-se por maior penetração das águas salgadas (Berrêdo, 2006).
A intrusão da água do mar origina uma cunha salina, intersticial nos sedimentos, que se desenvolve próximo e obliquamente à superfície do terreno (Figura 1, direita). A cunha salina e um perfil de oxidação se estabelecem simultaneamente sob os sedimentos lamosos dispostos ao longo do estuário. A linha contínua representa a zona de oscilação máxima da salinidade intersticial entre o final do período de estiagem e o final do período chuvoso. A linha tracejada representa a amplitude da oxidação (“frente de oxidação”) neste intervalo sazonal.
A intensidade do clima e a evapotranspiração proporcionam a oscilação vertical do nível freático próximo à superfície do terreno, a supersaturação das águas intersticiais, a decomposição dos sulfetos de ferro, sua liberação e consequente oxidação, que se precipita como oxi-hidróxidos. Esse processo deixa impresso nos sedimentos uma mineralogia que, embora transitória, é testemunho dos rigores climáticos e evidencia o movimento das águas intersticiais nos sedimentos (Figuras 2 e 3).
As sucessivas exposições e submersões do sedimento promovem a remobilização e a reprecipitação do Fe3+ ferro como películas na forma de óxidos ou hidróxidos que envolvem os grãos de quartzo ou preenchem cavidades de restos de raízes (Figura 3). A origem do ferro nestes sedimentos está relacionada às partículas de hematita e/ou goethita que chegam em suspensão nos manguezais provenientes dos latossolos de ampla distribuição nas terras firmes da região.
REFERÊNCIAS
Baltzer, F., 1982. La transition eau douce-eau salée dans les mangrove. Conséquences sédimentologiques et géochimiques. Mém. Soc. Géol. Fr. 144: 27-42.
Berrêdo, J. F. 2006. Geoquímica dos sedimentos de manguezais do nordeste do estado do Pará: o exemplo do estuáriodo rio Marapanim. Tese de Doutorado (não publicada), Centro de Geociências, Universidade Federal do Pará,185 p.