02 – Arte de nobres entalhes em clorita – biotitaxistos mineralizados a berilo verde

Ano 03 (2016) - Número 01 Artigos

Marcondes Lima da Costa, Curador do Museu de Geociências da UFPA, Professor do PPGG/FAGEO-IG/UFPA e Pesquisador CNPq.

 

Décadas atrás belas peças decamétricas a métricas de arte entalhada em rocha negra rica em agregados centimétricos de cristais de berilo verde começaram a surgir em feiras e exposições de arte mineral no mercado nacional, e principalmente no mercado internacional. São obras belas, de fino acabamento, delicadas, que retratam a vida dos garimpeiros de pedras, principalmente de diamante e esmeralda, do interior da Bahia. O motivo, portanto sempre tinha a presença do homem em seu trabalho duro e nobre, da pedra, do berilo e do ambiente mineral, em uma peça única, normalmente. Hoje em dia os motivos se ampliaram e se afastaram do dia-a-dia do garimpo. O preço não é tão acessível, porque além de empregar uma matéria-prima relativamente rara, a mesma não é tão fácil de ser trabalhada, principalmente por conta do berilo com dureza elevada, 7,5 a 8, o que requer equipamentos adequados e especiais, e, além disso, envolve uma grande destreza e capacidade artística do artesão, também incomum. Essas peças estão hoje em coleções particulares e Museus na Europa, nos EUA, em países da Ásia, e em parte do Brasil.

Eu sempre apreciei essas obras e tinha grande vontade de adquiri-las, até que um dia ao ver uma delas muito bela e representativa na aconchegante e ampla sala de estar da família Herbert e Mariele Pöllmann, em Eschberg, Niederbayer, Alemanha (Figura 1), decidi-me a ter uma também. Obviamente não no porte da dos Pöllmann, pois meus recursos monetários não me permitiriam. Finalmente consegui a minha peça através do Sr. Botelho Oliveira. Ela tem 70 cm de altura, pesa 21 kg, e tem como motivo um garimpeiro de esmeralda da Bahia, que ajoelhado segura um agregado de cristais prismáticos hexagonais de berilo verde cravados no clorita biotitaxisto com molibdenita (Figura 1). A peça realmente preencheu a minha expectativa e o meu desejo, e enfeita a bagunça de minha sala de estar em meu apartamento em Belém do Pará.

Embora alguns insistam em denominar esses cristais verdes de esmeralda, não o são, pois não apresentam as propriedades características de um berilo para ser classificado como tal, e por isso a denominação berilo verde é muito pertinente. Esmeraldas do porte desses berilos verdes seriam improváveis, e quando encontradas obviamente não seriam empregadas para arte de entalhe, salvo por algum rico muito extravagante.

Os xistos negros ricos em biotita e em parte clorita e/ou talco são a rocha encaixante das esmeraldas da Bahia, especialmente aqueles dos terrenos de rochas ultramáficas serpentinizadas de Campo Formoso e Serra da Carnaíba (Municípios de Pindobaçu, Campo Formoso e Saúde) que constituem o Greenstone Belt de Jacobina intrudido por rochas graníticas. Esses granitos contêm inúmeros enclaves de rochas quartzíticas, que atestam a sua natureza intrusiva. Os granitos em contatos com as ultramáficas serpentinizadas desenvolveram zonas ricas em flogopititos além de pegmatitos graníticos, mineralizados em berilo verde e esmeralda, por vezes molibdenita. A rocha mais comum desenvolvida por conta do metamorfismo de contato com hidrotermalismo é talco – clorita – flogopita biotitaxisto, além de serpentinitos (Araújo et al., S/D; Rudowski et al., 1987; Giuliani et al., 1990 ). São esses xistos que constituem a matéria-prima das obras de arte em pedra com berilo verde. A formação dessas rochas e seus minerais, como berilo verde e esmeralda, somente foi possível pelo contato ígneo entre os serpentinitos portadores de Cr, o elemento cromóforo do berilo, com os granitos ricos em Be e Mo, que propiciaram a formação de berilos verdes e molibdenita em regime de pegmatito. São essas condições excepcionalmente raras que formaram essas rochas e suas magníficas mineralizações.

 

Figura 1. À esquerda peça entalhada em clorita biotitaxisto com veio de berilo verde de propriedade da família Pöllmann e à direita a minha peça ressaltando cristais os prismáticos hexagonais desse mineral. Imagens do autor.

 

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, J.R., TAPAJÓS, N.S., S/D. Panorama do garimpo serra da Carnaíba – desenvolvimento da segurança e saúde ocupacional, a partir do processo de legalização. http://www.cbmina.org.br/media/trab/arq_40, em 22.03.2016.

GIULIANI, L.G., SILVA, J.H.D. AND COUTO, P. 1990. Origin of emerald deposits of Brazil. Mineralium Deposita, 25, 57-94.

RUDOWSKI, L., GIULIANI, G., SABATÉ, P. 1987. Les phlogopitites à émeraude au voisinage des granites de Campo Formoso et Carnaíba (Bahia, Brésil): un exemple de minéralisation protérozoique à Be, Mo et W dans des ultrabasites métasomatisées. C.R. Acad. Sci. Paris, T. 301, Série II, 18: 1129-1134.