08 – A utilização ancestral do ocre na arte rupestre: o caso das Lapas do Parque Nacional de Sete Cidades – PI

Ano 03 (2016) - Número 01 Artigos

João Vicente Tavares Calandrini de Azevedo, IC- Faculdade de Geologia/IG/UFPA, Jose Fernando Pina Assis, Faculdade de Geologia/IG/UFPA.

 

A arte rupestre parece ter sido o ponto de partida para a reflexão humana acerca do seu meio e modo de vida. Os registros das primeiras manifestações datam de 40 mil anos e são atribuídos ao Homo sapiens cromagnon, e os sítios mais antigos estão localizados na Europa. Entre os mais famosos encontra-se o Sítio Rupestre da Caverna de Lascaux (Figura 1), na França, que apresenta um mundo fascinante de pinturas feitas com riqueza de detalhes e gigantismo de escala, cuja idade mais apurada aponta para 18.000 anos. No Brasil há muitas lapas e cavernas com registro de arte rupestre: Lagoa Santa-MG (Figura 2) é um dos mais estudados. Na cidade de Pedra-MT (Figura 2) as apas, embora muito interessantes, estão em locais de difícil acesso. Os desenhos de Ererê, em Monte Alegre-PA (Figura 4), contém elementos figurativos curiosos.

 

Figura 1. Cena do cotidiano dos caçadores coletores da região da Dordonha francesa (caverna Lascaux). Fonte Wilkipedia Acesso em 10 de março de 2016, 0:12h.

 

Figura 2. À esquerda detalhe de arte rupestre em lapa de Lagoa Santa-MG; Ao centro – detalhe de arte rupestre em lapa de Cidade de Pedra, Rondonópolis-MT; À direita – representações pictóricas de elementos astronômicos em Monte Alegre-PA. Fonte Wikipedia Acesso em 10 de março de 2016, 0:30h.

 

A região nordeste é um dos berços da arte rupestre no espaço hoje Brasil. Seus muitos sítios arqueológicos são verdadeiras exposições permanentes das atividades pictóricas humanas, seguramente feitas há mais de 30.000 anos (Alves et al, 2011). Segundo o Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), somente no estado do Piauí, há mais de 2.000 sítios arqueológicos, conhecidos ou registrados, em cerca de 70 municípios. São famosos os carvões de fogueiras antrópicas pré-históricas do Sítio da Perda Furada em São Raimundo Nonato-PI, que datam de 56.000 anos. (Alves et al, 2011).

 

O Conjunto Rupestre das Lapas e Abrigos do Parque Nacional de Sete Cidades

Localizado no estado do Piauí, 180 km ao norte da capital Teresina (Figura 5) o parque é uma Unidade de Conservação Integral, administrada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). Seus recursos naturais são utilizados no sentido de sua preservação.

 

Figura 3. Localização do Parque Nacional de Sete Cidades (Estado do Piauí) no contexto geográfico brasileiro.

 

O local é utilizado para ecoturismo, bem como para pesquisa científica e visitas educacionais de escolas e universidades. Formado por Arenitos Ferruginosos da Formação Cabeças (Devoniano da Bacia do Parnaíba) as “cidades” são conjuntos de monumentos rochosos artísticos naturais, resultantes da luta entre os agentes da intempérie e os processos geológicos sedimentares. Em algumas “cidades” as representações rupestres aparecem nas lapas, abrigos e paredões, com formas pictóricas da natureza – animais e humanas – pintadas por comunidades caçadoras-coletoras há cerca de 6000 anos. Segundo Alves et al (2011) os pigmentos eram preparados com OCRE, constituído de uma mistura de argila e oxi- hidróxidos de ferroGoethita, FeOOH, além de hematita, Fe2O3 e), carvão vegetal, ossos queimados e triturados e oxi-hidróxidos de manganês (por exemplo pirolusita, MnO2), entre outros. O uso do OCRE se tornou- unanimidade entre comunidades humanas pré-históricas, especialmente por dois motivos:

  1. abundância e fácil obtenção, como subproduto do intemperismo de rochas ricas em óxi-hidróxidos de ferro e manganês, notadamente por sua capacidade de formar corante;
  2. facilidade de se transformarem pó, até porque em geral já se apresenta na natureza como, tornando o c ocre um corante natural.

As comunidades devem ter feito contato acidental com o material e a partir daí se apropriaram dele, transformando-o aos poucos em instrumento de representação do seu cotidiano. O contato entre as várias comunidades deve ter sido o elemento de transferência da tecnologia entre elas. As imagens da figura 4 ilustram elementos pictóricos elaborados com uso do ocre, nas lapas do Parque Nacional de Sete Cidades.

 

Figura 4. Acima da esquerda para a direita: detalhe da arte rupestre das Lapas dos sítios da cidade do Parque Nacional de Sete Cidades (PI). Em destaque a mão com seis dedos nas imagens abaixo da esquerda ao centro Fonte Wikipedia. Acesso 11 de março de 2016 às 14:20h.

 

REFERÊNCIAS

http://www.anuario.igeo.ufrj.br/2012_1/2012_1_209_221.pdf http://www.cprm.gov.br/publique/media/Rli_Geoparque_Cidades_Barros.pdf http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/pdf/mneme25/mneme252.pdf http://www.scielo.br/pdf/qn/v34n2/02.pdf http://www.brasil.gov.br/cultura/2009/10/arte-rupestre http://chicohistoriador.blogspot.com.br/2010/06/tradicao-agreste.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Lascaux

https://www.google.com.br/search?q=arte+rupestre+em+rondonopolis&gws_rd=cr&ei=KXzhVo7JMIL5wgStt a2IAg

http://www.chupaosso.com.br/index.php/turismo/dicas-de-turimos/1792-monte-alegre-sitios-arqueologicos http://ecoviagem.uol.com.br/brasil/minas-gerais/parque-nacional/cavernas-do-peruacu/

Tetisuelma Leal Alves, T.L, Brito, M.A.M.L, Lage, M.C.S.M, Cavalcante, L.C.D., Fabris, J.D. – Pigmentos de pinturas rupestres pré-históricas do sítio Letreiro do Quinto, Pedro II, Piauí, Brasil

Quím.Nova vol.34 no.2 SP. 2011 http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422011000200002