01 – A MATÉRIA-PRIMA DOS ESTUQUES APLICADOS NAS EDIFICAÇÕES HISTÓRICAS

Ano 03 (2016) - Número 04 Artigos

Lorena Flexa Figueiredo, LACORE/PPGAU/ ITEC/UFPA

Thais A. B. Caminha Sanjad, LACORE/PPGAU/ITEC/UFPA

 

O estuque como técnica ornamental, reproduz ao longo da história da arquitetura, diferentes estilos e tipologias, estabelecendo distintos cenários visuais que compõem a paisagem urbana das cidades. Na cidade de Belém foi intensamente empregada durante o ciclo da borracha, na Amazônia, ao final do século XIX e início do XX, momento de prosperidade econômica no qual as edificações se enobrecem. Na arquitetura civil se destacam especialmente palacetes residenciais que representaram o poderio econômico e social da burguesia ascendente (Figura 1).

 

Figura 1. a) Vistas dos ornamentos em estuque da fachada do Palacete Augusto Montenegro, construído em 1903.

 

Figura 1. b) Vistas dos ornamentos em estuque da fachada do Palacete Bolonha, construído em 1915.

 

Estuque é uma técnica realizada em argamassa empregada tanto como revestimento ou na confecção de relevos decorativos sejam eles internos ou externos, parietais ou de forros, sobre diversos suportes. Ao longo da História, os estucadores utilizavam no geral dois componentes de base: cal e gesso. Contudo, foram utilizados outros constituintes como argila, pó de mármore, pó cerâmico (tijolos e telhas), pozolana e uma variedade peculiar de aditivos orgânicos como colas de origem animal, óleos e fibras vegetais. Ao final do século XIX em Belém observa-se a cal como material construtivo na composição do estuque; a denominação “cal de sernamby”, obtida a partir das conchas de moluscos marinhos calcinadas, e seu emprego era recorrente em argamassas de revestimento à base de cal e argila. As fontes de cal são compostas principalmente de calcário calcítico ou dolomítico, bem como de conchas marinhas, que devidamente calcinadas (850 a 900 °C) dão origem à cal denominada viva ou virgem.

Posteriormente, o emprego do cimento Portland na composição dos estuques, se justificava na substituição daqueles em gesso existentes nas galerias abertas ao exterior, que com facilidade não resistiam às intempéries. Esses elementos se apostos em posições externas sofrem as ações intempéricas, sendo eles muito susceptíveis a esses processos, apresentando uma diversidade de alterações que acabam provocando danos mais graves, como o destacamento parcial e total dos mesmos, ocasionando lacunas.

O entendimento dos processos de alteração dos estuques expostos às intempéries contribui para a preservação do mesmo, uma vez que possibilita entender como este material é transformado no clima tropical úmido. Com base nas informações baseadas em produtos de intemperismos é possível traçar subsídios de conservação e restauro.