08 – A Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá, Pará, Brasil.

Ano 04 (2017) - Número 03 Artigos

 10.31419/ISSN.2594-942X.v42017i3a8RCCN

 

 

Roseane da Conceição Costa Norat, Marcondes Lima da Costa.

 

As fortificações da Amazônia tem estreita correlação em sua construção e uso de materiais geológicos provenientes de seus entornos. A Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá representa mais um exemplar cuja aplicação dos materiais provenientes das falésias e proximidades pode ser vislumbrada especialmente nas suas muralhas composta por rochas e em menor ocorrência tijoleiras cerâmicas.

Situada na cidade de Gurupá (Pará) localizada no delta sul do rio Amazonas e próximo à confluência com o rio Xingu, esta fortificação foi assentada sobre uma ponta de terra constituída de lateritos imaturos, cujo perfil completo é exposto nas barrancas do rio. O seu material rochoso é similar em boa parte com os blocos da construção.

A primeira estrutura no local foi obra de holandeses ainda no primeiro decênio do século XVII (Forte Mariocay) o qual seria conquistado em 1623 por Bento Maciel Parente que viria a reconstruir no mesmo local, um novo forte em taipa de pilão o qual, ao longo de sua trajetória, foi alvo de ataques de ingleses (1629) e de holandeses (1639 e 1647). Reconstruído por ordem do Governador e Capitão-General do Pará, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho em 1690, suas obras foram iniciadas em 1691. Em 1760, Manoel Bernardo de Mello e Castro deliberou pela reconstrução da fortaleza, contando com a colaboração do Engenheiro Gaspar João Geraldo de Gronfeld (1761) e de Antônio José Pinto entre 1771 e 1774, seu comandante à época (Souza, 1885; Viana, 1905; Garrido, 1940; Barretto, 2010).

 

Fig. 1. A Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá (Pará). (Foto: Roseane Norat, 06/07/2017).

 

As intempéries e a forte correnteza do rio Amazonas são descritas como causadoras dos arruinamentos ocorridos historicamente na estrutura, assim como a topografia amazônica que apresenta ali “multiplicidade de ilhas” além de canais e paranás que facilitavam a entrada de embarcações e tornavam a fortaleza estrategicamente inútil (Viana, 1905).

Como em outras construções militares na região sobressaem-se os blocos de crostas lateríticas e arenitos ferruginizados que predominam nas muralhas contendo ainda tijoleiras cerâmicas produzidas a partir de material argiloso proveniente especialmente dos horizontes mosqueados das falésias às margens do rio. As rochas são escuras, de coloração marrom a avermelhada, com mineralogia predominante de grãos de quartzo e matriz ferruginosa composta de goethita e hematita, enquanto que as tijoleiras apresentam coloração alaranjada resultante tanto da temperatura de queima quanto pela composição de argilas em geral cauliníticas e contendo óxidos e hidróxidos de Fe.

 

Fig. 2. (a) Blocos de crostas lateríticas e tijoleiras cerâmicas nas muralhas da Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá; (b) Falésia na orla de Gurupá, esculpida sobre perfil laterítico imaturo, fonte parcial do material construtivo do forte, solapada pelo rio, a partir do horizonte mosqueado argiloso, mais susceptível a erosão. (Foto: Roseane Norat, 06/07/2017).

 

Atualmente o monumento encontra-se em obras empreendidas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional/IPHAN/PA que visam a contenção da encosta e a recuperação do monumento tombado desde 1963, que incluem as muralhas e a edificação da praça central. Também em seu entorno ocorrem pesquisas arqueológicas sob a coordenação do arqueólogo Fernando Marques do Museu Paraense Emílio Goeldi.

 

REFERÊNCIAS

Barreto, Annibal. (2010). Fortificações do Brasil. Rio de Janeiro, Biblioteca do Exército, 2ª Edição, 208 p.

Garrido, C. M. (1940). Fortificações do Brasil. In: Separata do Vol. III Subsídios para a História Marítima do Brasil. Imprensa Naval, Rio de Janeiro

Souza, A. F. de. (1885). Fortificações no Brazil. Revista do Instituto Histórico, Geographico e Ethnographico do Brazil. Tomo XLVIII, Parte II, Rio de Janeiro, Typographia Universal de Laemmert & C.

Vianna, Arthur. (1905). As Fortificações da Amazônia. In Annaes da Bibliotheca Archivo Publico do Pará, Brazil. Typ. e Encadernação do Instituto Lauro Sodré, Tomo Quatro. Pará. p. 227-293.

 

 

 10.31419/ISSN.2594-942X.v42017i3a8RCCN