14 – Vidro no papo da galinha de Rio Branco-AC

Ano 02 (2015) - Número único Artigos

Marcondes Lima da Costa, Curador do Museu de Geociências e Suyanne Flávia Santos Rodrigues PDR/IG/CNPQ e Museu de Geociências

 

Hoje, 16.12.2015, no fechamento do Boletim BOMGEAM 2(2015), se nos apresentou o senhor Francisco de Assis, nascido em Tarauacá, batizado em Rio Branco e morador de Belém, aposentado da UFPA. Ele veio munido de um saquinho de plástico com 15 caquinhos de 3 a 5 mm de comprimento, de cor azul clara, transparente, com cantos angulosos, grosso modo lembrando até arestas e faces (figura 1). Mas no olhar mais acurado, eram fragmentos de arestas vivas e superfícies semi-planas. De imediato, após pergunta o nome do senhor, e a segunda pergunta, que normalmente vem com resposta evasiva e mentirosa, “onde coletou esse material?” – Rio Branco, disse ele. –Rio Branco, Acre? – Sim. – Impossível! Impossível!!! – Não, é verdadeiro. – Mas como? Só se for no papo da galinha! – e é isso mesmo, foi no papo da galinha. Meu irmão tem uma casa no conjunto Panorama e comprou areia para construção, e as galinhas ficam ciscando por lá. – Eu disse: mas isto aqui está com pinta de fragmentos de vidro de para-brisa de automóvel ou caminhão. – E aí ele calou-se. Pedi a Flávia para uma análise rápida por microraman. Não deu outra. VIDRO!!!, 100% VIDRO. A galinha, na ausência de pedrinhas para o seu papo, usou o que tinha: fragmentos de vidro de para-brisa. Reciclagem?

Este exemplo não é isolado, com frequência recebemos pessoas interessadas em identificar materiais geológicos, em geral na esperança de achar um tesouro e de ficar rico pra sempre, não ter mais que trabalhar. Que tristeza!

 

Figura 1. Caquinhos de vidro encontrados no papa de galinha em Rio Branco-AC pelo irmão do senhor Francisco de Assis.