04 – DE ONDE VEIO MINHA OPÇÃO PELA GEOLOGIA?

Ano 05 (2018) - Número 03 Notícias

Fantástico depoimento do prof. Dr. Moacir Buenano Macambira, um dos tres irmãos geólogos formados pela Universidade Federal do Pará, escrito por ele mesmo. Ele está agachado na proa do Genesis II,  ao nível da água, na foto.

Hoje é difícil relembrar quando foram meus primeiros contatos e atração pelo mundo geológico, especialmente por ter dois irmãos mais velhos que também cursaram Geologia, o que me faz confundir a memória.

A minha mais tenra lembrança, foi quando tinha cerca de 8 anos e residia na rua Tiradentes, no bairro do Reduto. Mesmo sem sabermos o significado da palavra Geologia, foi junto com um amigo de infância – Betinho – que tivemos o primeiro contato com esse mundo. Um dia encontramos no leito de nossa rua não pavimentada, um fragmento de rocha, talvez resto de alguma obra, que muito nos atraiu pelo seu brilho e cor verde claro e o guardamos como um tesouro. Betinho sabia que tínhamos no bairro um especialista do reino mineral que poderia nos dar alguma informação sobre nosso achado. Fomos a ele, que estava sentado em sua varanda lendo jornal. Era um senhor com certa idade, de aspecto europeu. Após um rápido exame, ele rasgou o canto da folha do jornal que lia e escreveu a palavra “micaxisto”, o que nos deixou contentes mas, até certo ponto, desapontados, pois não sabíamos o que fazer com nosso pedaço de micaxisto e que, aparentemente, não tinha nenhum valor. Posteriormente, fui saber que o senhor era Fritz Ackerman, um geólogo alemão que muito contribuiu para o conhecimento do nordeste do Pará e Amapá.

Minha atração pelas Geociências se fortaleceu em outras experiências. Por exemplo, depois de algumas aulas de Ciências no início do curso Ginasial (hoje, segunda parte do Ensino Fundamental), decidi fazer uma coleção de minerais. Pedi ao meu pai que mandasse construtir uma caixa de madeira com divisórias para oraganizar meus exemplares. A caixa era mais bonita que as amostras!

Quando meu irmão mais velho se formou e começou a trabalhar na CPRM, ele começou a trazer experiências de suas viagens de campo nos rios da Amazônia. Lembro-me das fotos em que ele dormia nas praias, embaixo dos barcos emborcados. Ele enfatizava que era ura vida difícil e que não valia apena tanto sacrificio. O efeito foi o inverso e eu me sentia cada vez mais com vontade em ter aquelas experiências.

Posteriormente, já na adolescência, tive outra experiência marcante para minha vida na direção da pesquisa. A convite de meu irmão, Joel, ingressei em um clube de ciências, formado por estudantes secundaristas de importantes colégios de Belém da época, como o Paes de Carvalho, Nazaré e Carmo. No clube, tive oportunidade de conviver e muito aprender, com colegas que se tornaram destacados pesquisadores e/ou administradores da UFPA, como Luiz Carlos Silveira, Cristóvão Diniz (ex-reitor), José Luiz Nascimento, João Guerreiro e Luiz Acácio Cordeiro.

Essas duas experiências, somadas à persistência de meus pais em induzir princípios de vida e me fornecer uma boa bom ensino, foram fundamentais para definir o profissional que sou hoje. Ao longo da vida, encontrei diversas personagens e passei por diferentes experiências e circunstâncias, que definiram a trilha que segui e onde cheguei, com erros e acertos.